Terehell

segunda-feira, abril 28, 2008

Dó-Ré-Mi

Me queixo de músico por carga genética, e se não me queixasse com certeza muita coisa na minha vida seria diferente, pra pior, claro. Nunca paguei minhas contas com música, infelizmente. Gostaria muito, e não vejo impedimento ideológico nenhum nisso, de poder viver de música. Se não o faço nunca foi porque tenho outra profissão e atividade. Nem sequer descarto que um dia vou viver disso, o futuro a Deus pertence, mas também, nunca, em momento algum, escondi ou diminuí o fato de ser músico. Há os que não me considerem assim por eu não estar, digamos, inserido no contexto dos que dela vivem. Isso não me faz mais nem menos, apenas mais um dos muitos. Só fico realmente chateado com uma galera que vende que tem "vida normal" e faz disso gancho de divulgação. Vida normal todo mundo tem, mesmo pagando o leite das crianças com música. Isso de que músico é "boêmio", "irresponsável", "fanfarrão", etc. é coisa do tempo da minha avó. Quem se valer disso hoje em dia está apenas tentando se esconder numa máscara de pseudo-elite-pequeno-burguesa, ou mesmo dar uma satisfação pra mamãezinha. A música deu uma nova mão de tinta no mundo em que eu vivia e assim ele se tornou um mundo inteiro novinho em folha pra descobrir novamente. Me levou pra lugares e me fez conhecer e conviver com pessoas bem distantes da minha casa. Covardia da minha parte se eu fosse descortez com ela.

segunda-feira, abril 21, 2008

Zottolices

Lembram do Paulo Zottolo, aquele que disse que se o Piauí não existisse não faria falta a ninguém?

Então...O garotão essa semana resolveu dar um 'jeitinho brasileiro' e pôs clandestinamente, no país, sem visto de trabalho, alguns técnicos da matriz holandesa da Phillips, pra ganhar tempo e economizar um dinheirinho, numa feira de tecnologia.


Resultado: uma noite em CANA e uma multa pra empresa!

sexta-feira, abril 18, 2008

La Linea

Vejam o que é a inocência da infância: eu adorava esse desenho quando eu era pequeno e passava numa sessão de desenhos tipo "educativos" (no bom sentido) na Globo, aos sábados pela manhã. Mas fuçando no youtube descobri que alguns episódios era bem 'adultos' e, claro, não passaram nessa faixa de sábado pela manhã. O desenho é simples, talvez isso faça com que ele seja tão sensacional:

segunda-feira, abril 14, 2008

Vi, Vidi, Vinci

Sim,eu fui e voltei mais uma vez. Mais uma vez resisti à estação de chuvas loucas que assola Pernambuco no mês de abril, também sobrevivi aos pedintes pentelhos de Olinda, aos taxistas suicidas e até a um raio no aeroporto. Tudo isso pra ver mais um Abril Pro Rock, o festival mais legal e economicamente viavél pra mim. E olha que o calendário em Recife é puxado: paralelo ao festival tinha Maria Bethânia e um desses shows-tributo à Bossa Nova, com Fernanda Takai e Emílio Santiago (glup!). Muita caretice pro meu gosto. O festival esse ano foi no chiquérrimo Chevrolet Hall, que como outros tantos 'halls' Brasil a fora é bastante grande e bastante padronizado. De melhoria considerável nessa mudança a ausência de congestionamento nas barracas de comes e bebes, e os banheiros, sempre limpos e aptos pra uso à qualquer momento. Na sexta uma abertura com os locais do The Amps e a banda do menino Foka, The Sinks, direto de Natal. Depois um Project 666, que, como o nome sugere, só é indicado pra galera do "roque preto". Momentos pra nunca mais esquecer a cargo do Mukeka di Rato e uma roda gigantesca de umas 50 pessoas, coisa possível de se ver só por aquelas bandas. Bad Brains eu tinha lá minhas dúvidas se ia conseguir passar a real expressão da sua mistureba pro público, mas foi jogo ganho. Tocaram bastante coisa antiga, do primeiro disco e do "Rock For Light", duas ou três de "I Against I" e, até onde eu percebi, nada da fase "Quickness", mais pesadona, a única falha (até onde isso foi possível) no show. Vamoz! é minha banda pernambucana preferida desde a ida dos Astronautas pra SP, e Zumbis do Espaço mostrou experiência de palco e contou com uma sintonia do público, o que com certeza deixou a banda bastante surpresa. Thor Zanathas é um figura. A frente dos Zumbis ele emula Elvis circa Vegas, Johnny Cash e Glen Danzing, tudo numa persona só. Grande frontman do udigrudi nacional, sem dúvidas. New York Dolls, mesmo reduzido a 2/5 da formação original, deu aula. São dois discos só com clássicos, impossível errar. os músicos novos são afiados e sintonizados na estética dos Dolls. Nem o som um tanto embolado e David Johannsen meio atravessado com o andamento no início do show estragaram a parada. Já bem tarde fui parar numa lanchonete na entrada de Olinda, com uma galera da lista Nordeste Independente e quando dei por mim era 4:00 da manhã, dali a três horas eu acordaria pra tomar o café na faixa da pousada, procurar uma lan pelas ladeiras de Olinda e voltar pra capotar na cama; isso resume bem meu sábado até as 17:00, horário em que supostamente os portões do tal hall se abririam novamente. Supostamente, porque Lobão passando som com seus 500 violões causou um atraso gigantesco. Em represália não fiquei pra ver o show dele, o último da noite. Madalena Moog (PB) e Erro de Transmissão (PE) tornaram a mostrar que a lavra do Rock está longe de se acabar, mas banda tem de ter cancha, dominar palco, não apenas repetir ensaio. Isso tudo sobra pro Sweet Fanny Adams, que apesar do nome não toca glam rock, e sim algo mais próximo de Placebo das antigas, Franz Ferdinand e Strokes. Todo mundo é novinho, mas todos têm entrosamento e segurança, visão periférica do show e mantêm a rédea segura. Autoramas, apesar de ter trocado de formação a coisa de um mês, fez show 100%, sem deslizes, cheio de hits e espantou a canseira que já ameaçava. Violins (GO) é bastante querido pelos indies teresinenses, mas a mim não chocou. Tem um pé no emo embrionário de Mineral e Hot Water Music, um cabecismo Radiohead nas letras, e só. Já que ninguém reclamou, então tá tudo certo. Wander Wildner me causava certa expectativa pelo fato de andar divulgando que mudaria (de novo) de estilo. Não vi muita mudança. Uma banda afiada, com o lendário Jimi Joe nas guitarras, a cozinha segura de Georgia Branco e Pitchu (ambas ex-revival das Mercenárias) e mais um gaita (não de boca, um sanfoninha), teclados e um violino, pra dar aquele toque Tom Waits. Wander sabe se espraiar bem na seara do rock gaúcho, pinça clássicos do repertório alheio, como "Amigo Punk", da Graforréia Xilarmônica, e "Sandina" (de Jimi Joe), hit dos próprios Replicantes. Também tem os seus: "Bebendo Vinho", "Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te amo" e "Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro". De tanto passar pela cidade e confraternizar com músicos e público, restou a Wander se sentir em casa e sair nos braços do povo. Muitos se entusiasmaram a elegê-lo logo o melhor do festival. Se não fossem os neo-zelandeses do Datsuns, que tocaram logo após os sergipanos do Rockassetes; uma lenhada na linha Radio Birdman/Hellacopters, com peso e melodia na medida. Victor Araújo tem apenas 18 anos, podia muito bem ser mais um garoto de classe média pagante do festival, se não fosse uma promessa como interpréte de piano erudito, entortanto Villa-Lobos, frevo, Chico Buarque e "Paranoid Android" com um jeito inusitado de percutir a tampa do piano e diretamente as cordas. Foi prejudicado pela má microfonação do dito cujo e por passar um ar blasé, e até certo ponto pedante, no final da apresentação. Nada que Céu, grávida de seis meses, não curasse. A MPB com tons afro da filha do compositor de "Ursinho Pimpão" agradou e não soou deslocada em momento nenhum. Voltamos a jovialidade e a personalidade de palco dos Superguidis (RS) e lá se vem Flávio Basso, a.k.a Júpiter Maçã. Músicas dos Cascavelettes como "Carro Roubado", "Morte Por Tesão" e "Menstruada" fazem parte de uma época muito bacana da minha vida, e eu realmente me empolguei com a estréia de Júpiter em "A Sétima Efervescência" (98). Mas desandou, infelizmente. A banda puxou o show o tempo todo, Basso parecia siderado e sem voz. Só animou mesmo em "Lugar do Caralho", já que o público cantou por ele. Triste ocaso. Pata de Elefante (RS) vem frequentando meu CD-player há um bom mês, não decepcionaram. Escolha certeira coloca-los no palco menor, assim a performance rendeu mais. Deu pra notar que são bastante prestigiados na cena gaúcha, que saiu do backstage em peso pra vê-los. Nisso aparece o grande lobo, e eu sumi à francesa. Um júpiter maçã já tinha sido o suficiente pra uma noite. Notaram a quantidade de artistas da Monstro no casting? Reflexos da ABRAFIN, e é só o começo. Rumo pro aeroporto numa Recife semi-deserta domingo 7:30 da manhã e me colocam num voô quase que instantâneamente devido a um raio que caira na pista de madrugada, danificando equipamentos de comunicação da torre de controle e as luzes da pista. Caos aéreo my ass : chego adiantado à primeira conexão, em Salvador(?!) e no horário em Fortaleza, onde a coisa realmente atrasou quase uma hora. Quase final de tarde e depois de cruzar os ares de 70% da região NE, chego em casa. Mas toda estória tem uma moral (igual aos desenhos do He-Man). Você se planeja pras coisas, pensa sempre na coisa ficando preta, mas muitas vezes até Murphy se dá mal; e você acaba se dando bem. Essa lição vale pra qualquer tipo de viagem, até aquelas pro interior.

P.S: Acabei esquecendo as crias potiguares do CSS, Barbiekills, mas é que a piada foi tão sem graça que acabou passando batido. Já combinei com um chegado do CE de montarmos uma banda nessa linha, chamada "Cansei Desse Rolê". Do jeito que a coisa vai, periga bombar.

quarta-feira, abril 09, 2008

Águas de Março

É pau, é pedra... É também a esperteza do povão, que não deixa de morar nas vazantes pra ganhar casa, cesta básica e tênis quando a água subir. É mais esperteza ainda do governo, que deixa a coisa rolar pra decretar calamidade pública e receber verba federal. É o fim do caminho: Gyselle trepada no caminhão de bombeiros, chorando e dançando, e umas desocupadas carregando garrafas de (eca!) Cajuína (na casa do ferreiro o espeto é de pau). Você já viveu dentro daquele cenário de sempre-chuva do "Sev7n"? Minha impressão da última semana, juro que achei que ia virar um bolor ambulante, tamanha era a umidade. Alguém ouviu falar em goteira particular? Isso existe! Passarinho na mão, pedra de atiradeira: Mão Santa e a galinhagem (no bom sentido), e coxinha do Rei da Coxinha de Gravatá (lá vou eu de novo!). Um passo, uma ponte, que eu espero ainda esteja de pé aí pelos interiores da vida. Muita correria esses dias, tempo é mais que dinheiro, cada minuto é precioso. Hurry, Alice! Run to the mirror! E tragam-me a cabeça do síndico!! E já é abril. É a promessa de vida no teu coração.

quarta-feira, abril 02, 2008

O Sopro & A Fúria

Ashley Kahn emplacou novamente. Depois de passar em revista "Kind of Blue" de Miles Davis, o homem foi com unhas e dentes pra cima de "A Love Supreme" de John Coltrane. Não é uma simples radiografia, é uma verdadeira autópsia! Se em "Kind of Blue" Kahn têve acesso a mapas de gravação, fitas master originais e fotos das sessões, aqui ele descolou até notas de pagamento do reboque que levou um gongo e um tímpano de orquestra, as duas peças incomuns da bateria de Elvin Jones, à gravação. Ironicamente, os instrumentos que abrem e fecham o disco, um testamento musical e espiritual de um músico que foi mais que uma virtuose, também ajudou a redefinir um instrumento enquanto o estilo caia de vez nas graças da massa não necessariamente afro-americana. Mas talvez arqueologia mesmo tenha sido esclarecer o que realmente houve na segunda sessão de gravação, que foi descartada na época pela gravadora, e lançada em forma de faixas-bônus no relançamento de 2004, quarenta anos depois do original. Para reconstituir isso, AK entrevistou músicos, engenheiros de som, executivos de gravadora e a viúva e atual controladora do espólio de Coltrane, Alice. Novamente pode parecer chato pra quem não tem muita intimidade com o mundo da música (e do jazz principalmente), seus termos e expressões, mas um belíssimo trabalho.