Terehell

sexta-feira, agosto 11, 2006

Bill Bull

William S. Borroughs foi um garoto de classe média-alta americana do período entre-guerras, das primeiras gerações de norte-americanos que migraram para os subúrbios afim de não ter de encarar a 'feiura' da vida nos grandes centros. O tédio do american way of life e a sede por experiências levaram Borroughs a ser um dos artifices da geração Beatnick, escritores cuja fonte de inspiração era puramente a vida, a estrada, o desregramento e a sede de viver. Enquanto Keruac procurou na estrada e nos tipos perdidos nela a essência de seu texto; "Bill Bull", como era chamado entre os "vagabundos iluminados", os extraiu da ponta de uma agulha hipodérmica, durante suas quase três décadas de vício em heroína e outros opiácios.

Duas de suas mais importantes, e fora-de-catálogo há anos no país, obras ganharam edições revistas e ampliadas. "Junky", a mais autobiográfica delas, conta como o garoto vindo de um lar perfeito se torna um viciado capaz das mais pequenos roubos e tráficos para manter o vício. Não há Christiane F. aqui, até porque Borroughs foi um dos primeiros americanos a frequentar instituições públicas de reabilitação, numa época em que a legislação sobre drogas se restringia a caçar falsificadores de receitas médicas. De extra, "Junky" trás um glossário com as gírias de rua dos viciados, usadas ostencivamente ao longo do texto, além de apêndices que reproduzem resenhas críticas sobre o livro, assinadas por gente como Allen Ginsberg, quando do seu lançamento, ainda nos EUA pré-Kennedy e seu conto-de-fadas midiótico Camelot.

Enquanto "Junky" se passa entre Nova York-Nova Orleans-Cidade do México, "Almoço Nu", uma mistura frenetica de experiências e delírios, flagra os anos mais intoxicantes da vida do escritor em Tanger, Marrocos, onde ele fez uma de suas mais longas "férias" para usar morfina livremente. Usando um local por ele chamado de "interzona", Borroughs inventa para si um alter-ego que trabalha com desinsetização enquanto nas horas vagas escreve sobre tomar o próprio veneno contra insetos, ou mesmo conversar com eles. Uma longa correspondência com médicos, pleiteando e enaltecendo os métodos de desintoxicação por metadona são o brinde da versão estendida de "Almoço Nu".

Bissexual e amante também das armas, Borroughs matou a esposa por acidente enquanto limpava uma arma em casa, o que acelerou sua saída do vício. Ainda nos anos 70 começou a ser enaltecido por artistas pop como Patti Smith e Frank Zappa, aproximação essa que acabou por leva-lo duas vezes às telas de cinema, em "Drugstore Cowboy", de Gus Van Sant (1986) e na adaptação para "Almoço Nu" do diretor David Cronenberg em "Crimes & Delírios" (1989).

Mas a música foi mesmo a grande redenção do escritor nos últimos anos de vida. Diversos discos com leituras de texto, homenagem em canções (como "Interzone", do disco "Unknown Pleasures" do Joy Division) e participações em gravações de Nirvana, Sonic Youth, Jesus Lizard e U2. Sua última performance foi registrada na versão da canção "Start Me Kitten", do R.E.M, na trilha do seriado X-Files, onde Borroughs declama a letra da música com seu caracteristico vozeirão cadavérico.

1 Comments:

At 10:04 PM, Anonymous Anônimo said...

vim deixar um beijo aqui pq não consegui entrar na p... do msn. bj e até o cinema.

 

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