Terehell

quinta-feira, outubro 14, 2010

Starts With...Uuuuuuuu

Um Suicidal Tendencies cancelado na boca da bilheteria. Um Radiohead que te deixou até às 3 da manhã procurando táxi. Um Engenheiros do Hawaii que quase mata você sem fôlego no hoje aposentado Verdão. A gente acha que já passou de tudo em show. Mas só até você encarar um S.W.U em Itú, a cidade onde tudo é folcloricamente grande. Até o caos, se for o caso. Já tenho um tempo nisso, sei que o que tiver de acontecer de perrengue num esquema desse só acontece na hora. Show, e ainda mais festival, é risco. Calculado, mas é risco. Aproveitando isso,aliado ao preço astronômico dos ingressos, preferi ir só um dia. O último, onde tudo que fosse pra acontecer de sinistro já tivesse acontecido. Mas risco é risco: saí de São Paulo numa manhã de segunda, véspera de feriado, cidade semi-deserta e termômetro nos 14°, suficiente pra fazer um cidadão do sertão como eu já se sentir bastante desconfortável. Uma hora e vinte depois, após passar em frente ao Castelinho da Pamonha, na beira da rodovia Castelo Branco, chegamos ao Maeda, um pesque-pague de um japa que começou a vida plantando tomates na região. O ônibus que me levou foi um dos primeiros a estacionar pro lá, e não demorou muito pro lugar ficar intupido deles. O melhor era marcar bem o local. Mais tarde isso seria muito providencial. Próximo passo: a fila, o passatempo favorito do povo brasileiro. O sol à essa altura já estava bastante arregalado, ao contrário da capital. Frio só quando batia um ventinho. Lá pelas tantas na fila topo com Márcio Vital, vocalista do Jason, ele vindo do Rio e já temeroso, achando que não estaria bem agasalhado, do frio pra mais tarde. Inocentemente eupensava que pior que os últimos dois dias em SP não poderia ser. Risco é tudo. Depois de atraso pra abrir portaria, côros de xingamento e um senta-levanta debaixo do sol primaveril do sudeste, a manada começa a adentrar, mas cerca de 500 metros depois, outra cancela. Produtos e atitudes anti-ecológicas não eram bem-vindas ao SWU, assim como biscoitos, pães de fôrma, desodorantes aerosol e garrafas plásticas contendo líquidos também não, uma estratégia pra vender mais lá dentro, claramente, porém pra dispensar esse "material" as pessoas começaram a usa-lo como artilharia anti-aérea na cabeça dos mais desavisados localizados na parte traseira da turba. Depois de vários pacotes de Divertidos (com ou sem recheio), Amor e Negresco, finalmente consigo entrar no Maeda. Realmente de encher a vista. Uma fazenda bem ampla e com uma parte rebaixada (a grande sacada do festival) onde se enxergavam os dois palcos principais. Indo procurar o que comer (na fila consumi uma banana filada do café-da-manhã ainda no hotel) percebo que as "tendas" eram na verdade imensos hangares, um pro povo fritar no som eletrônico e outro pras bandas independentes. Ambos bem distantes do palco principal, tudo que escutei vindo deles foi uma música do Mombojó ainda à tarde e mais à noite um final de show do Cansei de Ser Sexy. Uma roda gigante, patrocinada por uma empresa de produtos lácteos, e movida à pedaladas de cinco voluntários que faziam o papel de dínamo, destacava-se dos outros stands coorporativos. De bucho cheio e sede saciada, num solzinho de uns 30º, fui inspecionar os palcos maiores. Depois de ficar de bobeira pelo gramado me encostei no "camarote": um dos cercadinhos das equipes de filmagem, e por lá mesmo fiquei até o primeiro show. Alain Johannes - Músico de apoio do Kyuss/Queens Of Stone Age.Colaborou nas hoje lendárias "Desert Sessions". Show introspectivo, acústico e simpático. Ideal pro final da tarde sem ficar com cara de rodinha de violão ao redor da fogueira. Gloria - Banda de screamo que faz bastante sucesso em SP. É enlatado, não tem muito o que dizer. Você ainda vê MTV? Então gosta. Riffs e camisetas death metal com letras Chitãozinho & Xororó. Os primos malvados do Fresno. Crashdiet - Banda sueca, celeiro das boas bandas vintage da Europa na atualidade (Hellacopters, Backyard Babies, Saara Hotnights, etc). Emulam o glam metal americano dos anos 80, com aqueles pentados da Tina Tuner, mas o som é bem pesado. Os caras apostam com força no som e no visual e acabam convencendo pelo cansaço e pela competência como músicos. Rahzel - Pioneiro no uso dos scratches, ainda da geração de gente como Grandmaster Flash. Show divertido e nada modorento. Colagens com músicas conhecidas acabou ganhando a simpatia do público. Yo La Tengo - Primeiro show esperado do dia. Quem conhece os discos sabe que a banda tem músicas mais "chiclete" e outras mais viajandonas. Fazendo pose de "nem te ligo" pro público felizmente apostaram num repertório mais agitado, mas encaixaram faixas carregadas no improviso no final e acabaram atiçando a ira dos fãs sedentos dos irmãos Cavalera. Cavalera Conspirancy - Max e Iggor Cavalera, no Sepultura, ajudaram a criar e dar visibilidade a um mercado voltado pra música pesada no Brasil. Dá um nó na garganta ver esses dois senhores, roliços e quase sem saber falar português ainda, em cima de um palco. Aproveitaram bem a hora de show com material do primeiro disco, uma inédita e material, lógico, do Sepultura ("Refuse/Resist", "Troops of Doom", "Attitude", "Roots Bloody Roots").Não, ninguém sequer ousou puxar um côro com o nome da ex-banda dos Cavalera.Avenged Sevenfold - A farofa nunca morre. O que diferencia o AS do Crashdiet é a adição de toneladas de prog, muito por conta da presença de Mike Portnoy (ex-Dream Theater) na bateria.O vocal seria um cruzamento de Axl Rose com Dee Snider. Primeira prova de fogo contra o frio que já se instalava.Incubus - Quando saiu o line-up do SWU eu apostava que o forte do dia seriam os fãs do Linkin Park (meu ônibus era quase exclusivo deles), mas o Incubus reinou supremo. Arrancou gritinhos ao soar de todas as primeiras notas de todas as canções do começo ao fim do set. Confesso que não saberia a diferença de Incubus pra Dave Mathews Band se começasse a tocar no rádio. Passei batido, guardando meu lugarzinho pra ver os elfos e torcendo pra não ter uma hipotérmia.Queens Of The Stone Age - "Delay técnico" é um nome bonito pra atraso. Não sei se esperava pra vê-los. Aproveitei a folga do público do Incubus pra procurar um banheiro. Caminhei pra tentar me aquecer, e o show do QOTSA rolando...rolando...Show correto, apesar do atraso, músicas certeiras. mas eu queria ver os elfos mesmo.Pixies - Nada fácil presta. Eu tinha de passar frio, fome, sede, cansaço e o cacete pra ver uma das bandas da minha vida. Ouço Pixies desde os 16 anos. Já comprei um vinil do "Bossanova" (91) posto num sebo como "MPB". Me indignei com a banda ter acabado pouco antes do Nirvana estourar com "Nevermind", justamente copiando o que os elfos faziam. Eles voltaram, vieram ao Brasil e não fui vê-los em Curitiba. Estava escrito em algum lugar que eu tinha de enfrentar um frio de 10° no interior mais improvável de SP pra pagar a promessa de assisti-los ao vivo. Tá quitado: show perfeito, sem macaquice, sem lenga-lenga. Direto, como as músicas que colocaram o Pixies no panteão do rock alternativo dos anos 90. Cartase só do público cantando tudo junto com a banda. Entrou pro top 10 dos melhores shows de todo sempre. A quem interessar: repertório baseado em "Surfer Rosa" e "Doolittle", várias coisas do EP "Come On Pilgrim", poucas e surpreendentes faixas pinçadas de "Bossanova" ("Velouria", "Dig for Fire" e "Allison") e "Trompe Le Monde" ("U-Mass" e "Planet of Sound"). Linkin Park - Saciado, fui comer outra vez, tomar água e o rumo de volta ao ônibus. Passei batido totalmente, afinal não sou mais adolescente tem um tempinho já...Tiësto - Muito falado, mas não sei do que se trata. Ao cruzar pessoas que ainda iam entrar enquanto eu já ia pro ônibus alguém comentou que eram os "fãs tardios do Tiësto". Então tá, mas cadê meu ônibus no meio desses 6427778242 outros?! Sadismo puro fechar o caminho da entrada e obrigar você a dar uma volta gigantesca pelo escuro até onde você parou horas antes. Como o ônibus saia de volta pra SP assim que enchesse, rezei pro Linkin Park abusar logo e não ter mais nenhum fã do Tiësto querendo ver show às cinco da manhã. Moral: dormi e acordei 3:30 da manhã na estação da Barra Funda. Não sei descrever em palavras que frio era aquele na madrugada paulistana. Minha alma de sertanejo desconhece adjetivos pra tamanho gêlo. De lá, só hotel. Sustentabilidade só nas pernas.

2 Comments:

At 6:38 PM, Anonymous Adelvan said...

opa, demorou, mas voltou em boa forma. Belo post.

 
At 10:04 AM, Blogger Coruja said...

Pela narrativa parece realmente ter sido um puta dia pra você! Até sobreviveu pra descrevê-lo!rs..
Buenas!

 

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