Terehell

quarta-feira, junho 28, 2006

Ave, Caezar!

Ontem fui me despedir do meu ex-vizinho, colega de profissão e de batente Júlio César Galvão. Iria saúda-lo com o tradicional “Ave, Caezar” de sempre, desejar-lhe boa sorte na sua mudança pro planalto central, onde ele iria residir apartir de hoje. Ontem me despedi do Júlio pra sempre, pelo menos deste plano de existência. Na última quinta-feira, após dar carona a alguns amigos até o Sacy, o carro popular que ele dirigia foi acertado por uma caminhonete pelo menos quatro vezes mais robusta, que o deixou entre as ferragens e evadiu-se sem prestar socorro. Após passar o final de semana agonizando, o Caezar não resistiu a um edema no cérebro, e vêio a falecer na madrugada de terça.

Ano passado o Brasil passou por uma campanha de “sim” ou “não” em relação ao (des) armamento. Está mais do que na hora de haver uma campanha séria sobre desarmamento nas ruas, pois os carros estão virando armas em poder dos motoristas; e assim como as armas de fogo, estão destruindo vidas e sonhos. Hoje é impossível (ou pelo menos achamos ser) tirar uma carteira de motorista sem passar por aulas da chamada “direção defensiva”, onde se aprende que não basta só você prestar atenção nos sinais e regras do trânsito, mas também se mancar que o seu carro não é o único na pista, e que a pista não é autorama.

Eu vejo carro como meio de transporte, não como esporte. Nunca liguei pra carros na verdade. Nunca devorei 04 Rodas, nunca decorei marca, ano, país de fabricação, potência, etc. Pra mim, carro é pra me levar de um lado para o outro driblando o tempo, e olha que eu adoro dirigir. Muitas vezes já me disseram que eu dirijo bem, com segurança e prudência, mas também já me disseram muitas vezes que eu dirijo mal, pois não corto, não tranco, não avanço, respeito sinais e não ando em velocidade exagerada. Chega-se ao ponto bem aí.

Como tudo nesse país, falta educação PARA o trânsito NO trânsito. Falta às pessoas caírem na real que carro não é brinquedo, que F1 tem bombeiros, mecânicos, equipes de salvamento, helicópteros de resgate, paramédicos e uma série de especificações de segurança que podem salvar a vida do piloto, um cara que aliás ganha bem pra arriscar o próprio pescoço, em segundos. A rua, dentro da cidade, não tem nada disso, pelo simples fato que via pública não é autódromo. Os carros que compramos nas concessionárias também não são carros de corrida, e o álcool deve ser combustível pro veículo, não pro dono. Enquanto faltar essa educação, essa consciência que você tem a responsabilidade de guiar uma arma em potencial, casos como a do Júlio vão continuar se esvaindo pelos meio-fios.

Fica a dor da perda, fica a revolta com a impunidade, já que o mínimo que se espera agora, pra mãe, pai, irmãos, sobrinhos, noiva, companheiros e amigos, é que a justiça dos homens seja feita e traga assim ao menos conforto, já que não trás a pessoa dele de volta. O "Sr. Volante" que tirou a vida inteira pela frente de sonhos, trabalho e conquistas do Caezar continua solto, “pilotando” pelas ruas impunemente, muito provavelmente na mesma “máquina” que pôs fim à vida dele. E quem garante que ele não pode também tirar a minha e/ou a sua?

3 Comments:

At 9:44 AM, Blogger Mariana Arraes said...

Carro não é brincadeira... não é mesmo. Eu fui surpreendida por um louco no último domingo. No mínimo ele deve ter se irritado pelo simples fato de que eu estava guiando meu carrinho, também popular, "sem pressa" e de maneira prudente. Correr pra que, mesmo? Nem se eu tivesse apressada, atrasada ou coisa do tipo!!

A única conclusão a que posso chegar é que as pessoas [ou a maioria delas] não vêem automóveis como uma simples e, ao mesmo tempo, enorme necessidade. São pessoas que perdem tempo... e vidas.

O troco deles vai chegar... de um jeito ou de outro, vai chegar.

[Fui me despedir do Júlio também, fazer uma oração naquele ambiente de tristeza sem fim. Achei que deveria ir. Ele não era amigo meu, não era conhecido de anos e anos, mas fui... por ainda hoje ter na cabeça tudo que ele vinha me dizendo nas últimas semanas, msg via celular e pelo e-mail enviado por ele dia 13/06... nosso último contato, que eu, infelizmente, não cheguei a responder...]

 
At 9:48 AM, Blogger Mariana Arraes said...

Só mais uma observação: sabe com quem eu aprendi direção defensiva? Com meu pai...

 
At 9:15 PM, Blogger Anunciação said...

Pior é que esse pessoal que "pilota"e mata,continua a fazê-lo pois,mais uma lei,que a principio foi respeitada,tem-se esvaido na impunidade.Mesmo quando o ou a sujeita é flagrado(a)atravessando um sinal fechado,por exemplo,ele ou ela recorre e por meios da burocracia,pra mim inexplicáveis,consegue se safar.Por que educação,meu caro,começa em casa,respeitando-se o direito do outro,e acompanha a pessoa pela vida a fora.Meus pêsames.Dá uma agonia imaginar seus sentimentos.

 

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