Terehell Radio #3: Os Marditos
Lá por 1988 as gravadoras sentiram que a poeira do BRock estava baixando. Inchadas de contratados, não sabiam mais como administrar a briga de cão que até há pouco travavam para vitaminar seus catálogos. Alguns selos apareceram para escoar tanta gente doida pra botar a cara no mercado, o mais célebre deles foi o Plug, um selo da BMG-Ariola, que além de tomar conta do vastissímo celeiro de bandas gaúchas (Engenheiros, TNT, Replicantes, Garotos da Rua), ainda arriscava gravar coisas novas do Rio, SP e MG, mas em menor escala. Em SP, lojas da galeria, como a Baratos Afins e a Wob Bop montavam selos pra garantir a produção local, mesmo ficando devendo em distribuição aos selos cariocas, que eram veiculados a gravadoras grandes. Nesse banzé, apareceram as quatro bandas que você escuta nessa edição do Terehell Radio:
Picassos Falsos - "Wolverine": Vindos da Tijuca, zona norte, os Picassos negavam o "rock de bermudas" do Rio zona sul. Pelas letras de Humberto Effe coexistem pacificamente quadrinhos da Marvel, travestis da Lapa, Noel Rosa, homens que beberam até a alma e manchetes de jornais sensacionalistas. O som joga Jimi Hendrix na feira de São Cristovão, James Brown no Zicartola e pega ainda Echo & The Bunnymen e R.E.M de raspão. Voltaram em 2003, independentes, com um disco de inéditas.
Black Future - "Eu Sou o Rio": A dupla Tantão e Satanésio já era figurinha carimbada na cena underground carioca quando da formação do Black Future. Num mix de Suicide com partido alto (alguém falou Lado 2 Estéreo aí?!) desenrolam-se textos sobre a carioquice às avessas, citando João do Rio, Sérgio Mallandro e Zé Kéti. Ao vivo contavam com músicos de apoio, como Edinho Milese (da banda Kongo, pioneira no ska "two-tone" no Brasil) e aplicavam performances inspiradas no teatro do absurdo do ator e dramaturgo francês Antonin Artaud. Foram imortalizados na letra de "Porcos Fardados", do Planet Hemp, alguns anos depois, quando a guitarra voltou à moda.
Hojerizah - "Pros Que Estão em Casa": Uma legítima "one hit wonder". Mesmo gravando dois discos, o Hojerizah não conseguiu emplacar mais nada além dessa faixa, que pontua bem os vocais operísticos de Tony Platão e as guitarras bem acabadas de Marcelo Murrah. Chegaram a ter peito de musicar "A Canção da Torre Mais Alta", poema do simbolista francês Arthur Rimbaud, e por isso eram considerados "difíceis" de vender pelos marketeiros da gravadora.
Vzyadoq Moe - "Redenção": Do outro lado da Dutra, vindos da interiorana e industrialesca Sorocaba (que anos depois ganharia a alcunha de "Manchester brasileira")o Vzyadoq Moe causava estranheza pelo uso de percussão feita de latas e uma lírica de fazer inveja ao inclassificavel poeta paraibano Augusto dos Anjos. Ainda tocam no circuito paulista e sairam numa coletânea internacional ao lado de Akira S, Voluntários da Pátria, Smack e outros, em 2005.
1 Comments:
só p deixar um bj.
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