Terehell

quarta-feira, março 12, 2008

Veranico

Só imensas árvores de troncos retorcidos e casca grossa efeitavam aquela estrada pavimentada com areia grossa, e que fazia o ônibus deslizar de lado a todo tempo. Já passara um bom pedaço de tempo desde a última cidade, apesar de serem apenas 25 quilômetros. Sob as copas fechadas dos cajueiros, pequizeiros, pau-d'arcos e uma ou outra carnaúba, imensos ninhos de cupim, que à distância pareciam casamatas feitas por alguém com o intúito de vigiar ou atocaiar quem passasse por ali. Ainda na última cidade uma chuva-de-cajú, típica de veranico, ajudou mais ainda a abafar o tempo, mesmo deixando aquele cheiro de terra molhada. Pra onde vamos não há tanto a se ver. Uma avenidinha, uma igreja, e o armazém de secos e molhados onde o ônibus para na porta, na falta de uma rodoviária. Placas mostram que ainda existem outras cidades, a 30, 50, 78 quilômetros depois; embora à primeira vista se pense que o mundo acaba ali. O cheiro da chuva se mistura ao do diesel e da borracha emitidos pelo ônibus, outros cheiros vêm na sequência, como o da lenha queimada de alguém que ainda usa um forno rústico em alguma daquelas casinhas baixinhas ali ao redor, literalmente sem eira nem beira. A rodoviária improvisada vende biscoito, mas também cachaça, que parece escorrer pelas largas teias de aranha do teto alto e depois ser absorvida pela madeira gasta do balcão, ajudando a impregnar o ar constantemente. Os terreiros são adornados com goiabeiras, que disputam lugares com galinhas e o odor do sabão bruto de lavar roupa. Ao entardecer, o vermelho do céu se confunde com o do chão batido, e uma cigarra vem pedir mais e mais daquela chuva que só serve pra derrubar as flores novas dos cajús.