Terehell

segunda-feira, agosto 11, 2008

Isaac Hayes *1942/+2008

Na América dos primeiros anos pós-segregação, muita coisa não tinha mudado. Rádios, clubes e principalmente gravadoras ainda eram guetos onde só se trabalhavam artistas negros, só tocavam, cantavam, arranjavam e produziam artistas negros. Gravadoras como Motown/Tanla e Stax/Volt desovavam nas lojas e rádios a América afro-descendente que os afro-descendentes queriam consumir. Essas gravadoras eram verdadeiras linhas de montagem de hits. Dezenas de singles e LPs abarrotavam as paradas de sucesso, e vendiam, claro, não só para os negros. A história da Motown é de uma influência gigantesca no universo pop. De lá sairam Marvin Gaye, Diana Ross, The Four Tops, Jackson 5 (e depois Michael solo), Smokey Robinson e mais um catatal de gente que mandou nos charts mundo afora por décadas. Mas havia a Stax, onde gravavam Curtis Mayfield, Otis Redding, Booker T & The MG's, e onde trabalhava um arranjador, produtor e músico chamado Isaac Hayes. Em suas horas de folga, e contando com uma mãozinha dos colegas de trabalho, Hayes gravou “Hot Buttered Soul”, livre e desempedido pra meter a mão em coisas como “Walk On By”, hit de Burt Bacharach na voz de Dionne Warwick alguns anos antes. Certamente os executivos da Stax, além de não muito satisfeitos com o fato de um empregado usar a máquina da gravadora pra gravar um disco próprio, ficaram de espinha congelada ao ouvir o arranjo de cordas no melhor estilo wall of sound de Phil Spector numa música de abertura com doze minutos, cravados, de duração. Como vender um disco com apenas quatro faixas? Como pôr na rua um single chamado “Hyperbolicsyllabicsesquedalymistyc”? Quando chegaram à última faixa, “By the time I get to Phoenix”, com dezoito minutos e uma introdução totalmente falada, sem base instrumental, tufos de cabelo black power se espalhavam pelo tapete da sala de reuniões. O disco estava feito, pra cobrir o mínimo de prejuízo era bota-lo na praça; e despedir Isaac por justa-causa em seguida. “Hot Buttered Soul” vendeu como água, foi muitíssimo bem recebido pela crítica e a faixa de dezoito minutos tocou até dizer chega nas rádios (segundo Hayes porque os DJs podiam deixar rolando e ir transar com as namoradas). Começava aí a lenda do “Moisés Negro”, uma das figuras mais influentes da black music nos últimos quase quarenta anos. O duo Steely Dan procurou nos arranjos refinados de IH o sotaque soul que seu pop de estúdio tanto requisitava. Os ingleses do Massive Attack usaram vários samplers de Hayes no hoje também clássico “Mezzanine”. Trechos de suas músicas foram parar em bases dos Racionais MCs, no distante Capão Redondo, e sua grossa e pesada corrente em volta do pescoço virou símbolo de ostentalção na cultura hip-hop. IH foi o primeiro artista negro a ganhar um Oscar de melhor trilha, pelo black expoitation “Shaft” (anos depois a trilha do remake, com Samuel L. Jackson, voltaria a ficar sob sua batuta). Com o fim das hitsvilles, Hayes abandonou mais os palcos para se dedicar às trilhas e produções, e ainda achou tempo para ser o Chef, do desenho South Park. Hayes e a produção se desentenderam por causa de piadas sobre a Igreja Cientologista, a qual se convertera há alguns anos. O personagem foi morto no primeiro episódio da décima temporada, enquanto a alma quente e amanteigada de Isaac Hayes pegou seu bilhete pra eternidade na noite do último sábado. Entendam mais do legado de Isaac Hayes clicando no título desse post.

2 Comments:

At 10:10 AM, Blogger christy said...

RIP Isaac.

 
At 10:15 AM, Blogger Fabio Snoozer said...

caraca... sempre o último a saber hahaha
Para uma performance de IH de primeira linha, recomendo o dvd Wattstax!!
abs

 

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