24 Hours Party Wilson
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No epicentro do Punk, o programa de TV apresentado por Wilson era um dos únicos no Reino Unido a passar vídeos promocionais dos Pistols, Clash, Siouxsie & The Banshees, The Jam, etc. Nesse ponto, ao lado do DJ John Peel, Wilson tenha sido um dos grandes divulgadores nos meios de comunicação de massa do "levante" das novas bandas. Passada a hecatombe, mas antes dos destroços esfriarem, nosso anti-herói passou a fazer festas em bares locais, colocando bandas apadrinhadas. Sentindo a empatia do público, era chegada a hora de vende-las. Oferecendo um contrato "fifthy-fifthy" as bandas, criou o selo Factory (como ele mesmo diz, "inspirado em Andy Warhol") e montou um cast que por um bom tempo fez babar qualquer aficcionado por rock independente nos anos 80: Joy Division (e sua posterior encarnação, o New Order), Durutti Column e A Certain Ratio foram os carros-chefes da gravadora, que viu dinheiro entrar aos borbotões com o single de "Blue Monday", do New Order (ou "Diana Ross visita Manchester", mas isso não foi Wilson quem disse...).
Montado na grana (alheia), TW abriu o Hacienda, planejado para ser o clube mais arrojado e descolado da Inglaterra, onde as bandas da Factory tocariam todos os dias, ditariam o futuro do pop, e onde TW faria sua escalada gloriosa para o topo da fama. O Hacienda consumiu uma fortuna e levou anos para encher de verdade. Quando isso foi acontecer, uma nova cena de bandas estava estabelecida na cidade, nomes como Stone Roses, Inspiral Carpets e as "short name bands", como o James, adubavam as pistas com guitarras misturadas à batidas dançantes. TW, claro, descobriu a fonte da genialidade no Happy Mondays, um combo que mais consumia drogas que propriamente fazia músicas.
Mirando no elefante e acertando na mosca, os Happy Mondays viraram febre e o Hacienda lotou finalmente de gente descolada, formadora de opinião e ávida atrás de Ecstasy, a pílula do amor que botava os doidões pra dançar a noite inteira sem cair (na verdade um coquetel vagabundo de anfetaminas, fabricado por traficantes de quinta categoria no fundo do quintal). Como o balcão do Hacienda não vendia Ecstasy, o dinheiro ficou todo na mão dos traficantes na calçada, e o clube fechou as portas de vez em 1993.
Seria esse o fim da lenda-viva? Qual nada...TW amealhou produtores e partiu para o cinema. Um romance? Um drama shakespeariano? Sua própria vida, sem pudores e , claro, na versão dele próprio. "24 Hours Party People" mostra tudo que foi contado aqui e muito mais, inclusive as baixarias (que não foram poucas...). Pra não fugir da vocação à polêmica, TW pôs diversos personagens da vida real na película, mas também teve de tirar alguns, como Stephen Morrissey, que aparece apenas nos extras da versão em DVD; motivos legais, óbvio.
Agora, você leu isso tudo e não descobriu onde foi que você morreu com um vintém pra esse figura? Lá pelo longinquo ano de 1987, TW vendeu um "pacote" da Factory a uma pequena gravadora brasileira, que finalmente colocaria nas prateleiras tapuias o catálogo dourado de Mr. Wilson, tão disputado nas importadoras pelos antenados e descolados de plantão. Mas o item de ouro da Factory, o compacto de "Love Will Tear Us Apart", canção emblemática do Joy Division, ficaria de fora, pois no Brasil já não se fabricavam mais compactos há dez anos. Sem problemas: TW mandou "compactar" a faixa no àlbum "Closer" e passou adiante, tornando essa versão brasileira coisa de colecionador, pois é única na face da Terra. Como o próprio Tony Wilson diz, pirateando o diretor americano de cinema John Huston, "se você tiver de escolher entre contar a estória real ou a lenda, conte a lenda...".
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