Terehell

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Circo de Feras


Sexta, 29 de dezembro de 2006 - 00:40 da manhã.

Eu me desloco, com outra pessoa, pela avenida Raul Lopes, uma via de tráfego relativamente nova, bem asfaltada, preferida pelos motoristas que querem escapar de engarrafamentos e também predileta dos rachadores pelo asfalto em bom estado. Ao passar pelo balão do cruzamento da avenida Jockey Clube avisto duas blitz da já famigerada "Operação Rosa Dos Ventos", entrevero importado, com muito alarde em todos os canais de TV, da PM do estado de São Paulo (a mesma que inventou também a R.O.T.A). Somos parados pela blitz no sentido Jockey-UFPI; o de sempre: documentos do motorista, do carro, etc. Pedem que deixemos o interior do carro e que o porta-malas seja aberto. Estão à procura de armas e drogas, quem sabe eu poderia estar me deslocando com alguém sequestrado ou esquartejado no porta-malas (Vocês nunca viram "Fargo"? Alguém da PM já, pelo jeito...). Enquanto OITO policiais, quatro do lado de fora e mais quatro mexendo no interior do carro, revistam o veículo, reparo no "tratamento" dado à quatro ocupantes do carro que fora parado na minha frente. Todos de bermuda, camiseta regata, boné e com o bagageiro transformado em boombox, são obrigados a mostrar, do lado de fora do carro os documentos, e ainda passar por uma revista (aquele famoso "baculejo"). Enquanto espero o meu acabar de ser revistado, ouço um dos PMs dizer ao outro: "Eu gosto de parar é carro assim, de bodinho" ("bodinho", pra quem não é familiarizado com o termo, é como se chama por aqui playboys de classe média, que geralmente tiram a onda que os playboys grã-finos tiram, mas em carros bem menos luxuosos). Dou conta que minha sacola ficara no carro. Nela cabe, facilmente, um revolver de bom tamanho, uma Uzi quem sabe, ou mesmo um tijolo de prensado. Ela continuou sobre o banco traseiro, nem foi tocada. Me devolvem os papéis e nos liberam. Quase no balão da avenida Petronio Portela, alguém que se intitula motorista faz um cavalo-de-pau na nossa frente, ficando virado pra contramão. Reduzo e pisco a luz alta pra que o digníssimo se toque e não venha a colidir de frente conosco. Entramos na Petronio Portela, eu deveria entrar numa rua ao lado de um posto de gasolina. Tenho de entrar na rua por SOBRE o posto de gasolina, pois a avenida está enterditada por pedestres e motociclistas, que fazem festa para o mesmo carro que deu o cavalo-de-pau na nossa frente, já "rodando" novamente. Poderia ir pra casa pela zona norte, pegando a ponte da Primavera e a bela e arriscada alça que a prefeitura recém-inaugurou. Volto pela Raul Lopes, pois quero ser parado pela mesma blitz, do lado contrário ao que fui há menos de dez minutos. Bingo! Apesar de estar sozinho trafegando pela bela via de três espaçosas faixas, sou convocado a me alinhar nos cones. Novamente um enxame de PMs me cerca, abro bem a porta do veículo, e quando o responsável me aborda, o abordo primeiro. Explico que fui parado há pouco tempo na blitz da outra via, que presenciei duas manobras perigosas de infratores e que enquanto eles estão lá, parados, a festa estava comendo solta a menos de um quilometro dali. O PM, meio sem jeito, me diz que não preciso mostrar mais documentos e que vai afastar os cones para que eu saia.

Moral da estória (se é que tem): Quando da criação da guarda (que não guarda nada) da STRANS, uma briga judicial se sucedeu entre a prefeitura e o estado para saber quem aplicaria e ficaria com o dinheiro das multas. O então prefeito (e atual blogueiro) Firmino Filho levou a melhor. Desde lá essas "blitzs educativas", além de atrasarem a vida das pessoas que estão se deslocando de um lado pro outro, sem entretanto dever nada a ninguém, só servem pra multar faróis com defeito, placas velhas, IPVAs vencidos e render alguns couros-de-rato pro Estado, além de algumas entrevistas dos poderosos (como gostam de se referir aos outros) na TV (marketing pessoal, ya know...). Quem realmente está na rua com o propósito de infringir a lei, sabe que a blitz está parada e não vai incomodar, afinal eles estão na rua é pra arrecadar. Fico imaginando a seguinte situação: Estou indo a algum lugar ensaiar ou tocar, coisa que faço com uma certa frequência, carro carregado de coisas, a blitz me para, vê o carro cheio de cacarecos. Iam no mínimo me fazer tirar tudo de dentro. Pergunto: se eu estivesse carregando drogas, armas, dinheiro ou pedaços de gente, dentro de um case, eu o faria por uma avenida movimentada, a predileta dos motoristas meros mortais? É o que falta: Planejamento. Todo dia sai na TV, de manhã bem cedo, a localização de TODOS os radares, pra que o sujeito que anda com carro frio, sem documentos, descaracterizado ou mal-intencionado tenha a comodidade de não passar por eles. Meio-dia alguém da PM vai na TV e fala que naquela noite a tal "Rosa dos Ventos" vai estar a todo vapor. Os caras que assaltam restaurantes já sabem que eles mesmos podem ir a algum, pois a noite não vai render nada, vai ser day off, descanso. Não adianta só fazer a cara feia, tem de mostrar a cara feia, na hora e lugar certos.

Próximos capítulos: Tanto G.A.T.E na rua ainda vai acabar mal...