As vezes eles voltam...
Um amigo do serviço me diz que o ex-prefeito Firmino Filho tem um blog. Primeiramente achei que era alguém com anarquia, tipo aquele sujeito do “Eu Sou Regina”, mas depois o colega me mostra que realmente é o ex-prefeito, divagando sobre administração pública, analfabetismo e ,claro, política. Nunca votei em Firmino Filho, nem quando ele foi candidato nem quando se re-elegeu. Apesar da proximidade de gerações uma certa carga de empafia e pernosticismo não ganhou meu voto. Firmino era o caçula da turma do finado prefeito Wall Ferraz, o menino-prodígio. Mais do que natural que ele fosse o candidato a sucessão do mandato-tampão de Francisco Gerardo, prefeito empossado com a morte de Wall. O rapaz chegou cheio de idéias, falando em “Teresina é daqui pra frente” e começou a ganhar uma coleção de apelidos: “Prefeito Tatu”, por conta das obras do projeto SANEAR, que até hoje permanecem como cicatrizes expostas em muitas ruas da cidade; ou “Prefeito Criança”, graças a um projeto de combate a evassão escolar, que lhe rendeu um prêmio de renome nacional o qual ele muito bem soube explorar na propaganda eleitoral. Estive poucas vezes com o Firmino. Apesar dele tornar-se figura fácil em vários palanques e solenidades populares durante seus oito longos anos de governo lembro-me de estar perto dele apenas uma única vez, durante um show em comemoração ao aniversário da cidade em uma praça da zona leste. Firmino esforçava-se para subir em um skate e fazer uma simpatia, cercado de PMs armados até os dentes, como se o mesmo fosse Bush, Sharon ou alguém que o valha. A preocupação tinha seus motivos: Aquela época o ex-prefeito passava por uma crise de popularidade e andava ganhando estranhas manifestações por parte da população, como ovos e pedras. Ressabiado que algum garoto de 16 anos, a grande maioria do público naquele dia na praça, resolvesse presentea-lo, quem sabe, com um shape de skate, resolveu ir bem acompanhado. O que teria eu a dizer a Firmino? Agradecê-lo, com certeza. Agradecer por ele ter criado as zonas de estacionamento no centro, e assim ter provocado uma queda de dominó, onde quem realmente caiu foram casas seculares da região central, para dar lugar a estacionamentos prontos a oferecer vagas a quem não tivesse os famigerados talões da prefeitura. Agradecer por ele ter enterrado, junto com o entulho dos casarões, boa parte da memória de uma cidade que tem uma auto-estima muito frágil ainda. Não iria reclamar dele ter posto as unhas de fora e apunhalado seus velhos colegas de partido, cassando-lhes os cargos ou mesmo ter feito aliança com Hugo Napoleão, depois de ter ido a TV conclamar a população a receber o deposto Mão Santa e não aceitar Hugo como o novo governador. Não gosto de política, apesar de entender certas artimanhas dos dignissimos. Firmino (vá desculpando a intimidade), obrigado por ter destruido o caminho que eu fazia para ir a escola, outrora à pé. Hoje seria assaltado. Obrigado por transformar a praça onde eu jogava bola em um estacionamento a céu aberto e em rota dos pesados e barulhentos ônibus. A praça onde eu ia comprar revistas em quadrinhos com meu pai hoje é um ponto de travestis. Firmino chama isso de “progresso”. Eu prefiro não ter de pensar num nome e assim não correr o risco de tirar esse blog do ar.
1 Comments:
Belo texto, Fernando.
Isso serve pra refletirmos... e muito!
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