Mila, 17 anos.
respeitavél público...
Terehell
Eu e Mila já nos conheciamos há quase um mês. Nos cruzamos na noite, enquanto eu passava próximo a sua moradia temporária na cidade. Já havia me atraído seu semblante solitário, suas formas agigantadas, sua solidão perene sob a lona do que vem a ser, como diz um amigo meu, "o banheiro da praça de alimentação do circo original". Mila é uma ninfetinha de algumas toneladas, está na flor dos seus 16 anos, e vai fazer 17, bem embaixo do sol escaldante de Teresina. Mesmo sendo um animal originário das savanas, com clima e vegetação bem próximos ao nosso, não convém esquecer que Balneário Camburiú-SC, seu endereço fixo, não conhece, nem mesmo no verão, temperaturas iguais as nossas. Mila vive a sina dos animais de circo: vive presa, barganha truques por comida e é "bem-tratada" em favor da sua durabilidade como atração, e nada mais. Sua pele tem manchas, provavemente das cutucadas dos treinadores e não lembro de, quando nos cruzamos na balada, ela estar deitada a dormir. Mila vai apagar velinhas. A jovem mocinha virou promoção de um caderno infantil de um jornal local, crianças vão enviar cartas com frases congratulando a rotunda aniversariante e concorrer a entradas pro circo, e assim assistir a apresentação mecânica da monstrenga. Em sua temporada de B-R-Ó-BRÓ, Mila tem tempo pra sonhar com as savanas (elefantes tem boa memória), quem sabe fazer planos de ter filhotes, ou, na mais provável e melhor das hipóteses, aposentar-se e ir curtir a terceira idade em algum zoológico. Fazendo planos para o futuro e pensando em sua festinha, Mila nem se dá conta que ainda vai enfrentar uns bons 5.000 kms de volta até SC, pegando sol e chuva, e chegará lá uma atração um pouco mais castigada. Debaixo da sua lona-camarim, no calor, no barulho dos carros que passam na pista bem próximos a ela, Mila faz gracejos com sua tromba para as crianças que se juntam na calçada para vê-la e, quem sabe mais tarde, pagarão entrada para ver o resto do espetáculo. Mila é um bicho, mas vive a sina de absorver as neuras e nóias dos seres humanos, a quem está atrelada. Nada difere sua lona-camarim dos backstages da vida. Em qualquer situação, Mila tem de dar seu show, mostrar a simpatia de sua presença e nunca falhar. E se falhar, que falhe feio, pra entreter mesmo assim. Nesse ponto nos assemelhamos a Mila, e ela se torna incrivelmente mais poderosa do que já é, por se manter passiva, debaixo da lona, no calor, levando cutucadas e sonhando em estar bem longe daqui.
7 Comments:
É por essas e outras que eu detesto circos... Engraçado que quando criança eu não via a menor graça. E hoje, que tenho (ou penso ter) o mínimo de noção dessa realidade, continuo cega pra isso que eles chamam de graça, se utilizando desses animais que poderiam muito bem estar soltos em seu habitat natural. Se eu tivesse filhos (e se chegar a ter), não os levaria a circos, zoológicos ou lugares parecidos. É cruel.
Também num suporto circo, acho um saco, acho que é pq num fui quando era criança... rapaz e faço coro com o Washington sobre os Trapalhões, apesar de eu ter pego só o finalzinho, quando a Globo passou os melhores momentos de todos os tempos eu tive noção de que aquilo ali sim era DUCARALHO!!
Para dois lugares eu ia arrastado quando moleque : igreja e circo. No circo eu odiava o globo da morte, muito barulho por nada. Continuo não gostando de circos hj em dia. A garota ainda tem que lidar com sujeitos engraçadinhos que a despertam de seu sono na madruga. Ouvi uma estória ae, mas prefiro não contar...
ei to vendo q ninguem gosta de circo...então pq é ainda existe hein?!
Fê adorei o blog...vou ler aos pouquinhos os arquivos passados viu?!beijos
E ridiculo q isso ainda existe, eu quando era crianca ate curtia pq eu nao tinha nocao de como tudo fucionava. Hj em dia tenho muita raiva de circos com animais, nao suporto, me da raiva de pais q levam os filhos pro circo. Tenho q confesar q eu levei minha filha uma vez, pq ganhei um ingresso e nao tinha como negar pra minha filha q ja tava sonhando em ver os tigres, foi essa vez e nunca mais.
Depois ela podia tirar uma foto em cima do elefante e eu nao deixei, tentei explicar pra ela q pobrezinho do elefante nao gostava, ela entendeu. Entao nunca mais, espero q acabem com isso o mais rapido possivel, queria q as pessoas tomassem conciencia desse terror!!!
Bjaum fer, adorei teu blog!
Que tal uma olhadinha na assembléia ou na câmara de vereadores de THE. lá o bilhete de entrada e cobrado na conta de água e luz todo mês! pena q trocam o naris vermelho pelo terno!
olha... eu fui no Beto Carreiro.. assim.. eu mesma notei um poco de sangue da pobre da elenfantinha... até q era bonitinho ela lá, mas qdo nós notamos... me deu uma coisa... tb fiquei com pena dos camelos, eles não estavam bem tratados coisa nehuma.. so vendo de eprto... :(
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