Terehell

terça-feira, maio 30, 2006

A Dura - Parte II


Uns meses depois da invasão do Ceaseral, eu começava a meter a mão na massa pra fazer shows pequenos. Um cenógrafo do 04 de Setembro, João Vasconcelos, juntou o fanatismo pela cantora Elis Regina e a coragem de alugar a garagem da sede da União Brasileira de Escritores-PI, a poucos metros da praça Pedro II, atrás do Centro de Artesanato, e montar lá um bar que abrigasse shows de música, humor, festas temáticas e todo raio de idéia maluca de quem batesse a sua porta.

Não demorou muito pro lugar pegar, e como o João era um cara “limpeza”, bastava marcar a data e botar o show na rua. Independente de dar gente tinha sempre alguém “cadeira cativa” por lá, muitas deles ficavam ainda do almoço que era vendido lá, com destaque pro fígado acebolado. O pequeno palco do Elis foi cenário de shows e estórias que davam um blog, um livro, um documentário; enfim: mais que um bar, uma atitude.

Eu tinha ficado bastante impressionado com a performance do Terra Podre no fatídico dia do Caeseral. Tinha captado a energia da banda e sentia que, tocando num som de vergonha, eles cresceriam bastante em qualidade. Conversando com algumas pessoas, porém, pude perceber que as opiniões se dividiam: uns achavam a banda legal, outros achavam difícil trabalhar com eles, por acha-los radicais demais e hipoteticamente fora de controle.

Mesmo assim fui vê-los pouco tempo depois no Zil, um bar na Magalhães Filho, pertinho de casa. Cheguei no show, num meio de semana, sozinho, mas como em Teresina você sempre encontra alguém conhecido, topei logo com o Zevalter, que ai tocar lá com o Scrok. Eram apenas três bandas (uma das enéssimas encarnações do Demolidor, se não me falha a memória), o som estava melhor e apesar de uns bebuns de começo de noite (o Zil existia em dois lugares, no centro e na Miguel Rosa na altura do Monte Castelo, e a clientela é basicamente de happy hour, pessoas que saem do trabalho) houve um comparecimento até significativo de pagantes. Tudo OK, rolam as duas primeiras bandas, a terceira se ajeita pra começar o show (e se não me engano era o Scrok) quando a rua é invadida, pela mão e também pela contramão, por vários carros de polícia, com escopetas, coletes, rádios e luzes ligadas. Lembro bem que estava sentado do outro lado da rua, no meio fio e vi a chegada cinematográfica dos “homi”.

Antes que eu pudesse pensar “de novo não!”, lembrei que na esquina do Zil morava nada mais nada menos que o comandante do 25º BC, que com certeza não ligou pra delegacia, mas pro próprio secretário de segurança, haja visto o aparato da operação. Rádio vem, rádio vai, documento pra lá e pra cá, dava pra ver que a coisa era baseada numa velha tática: a da intimidação. Havia a afronta com o dono do bar e do show, afim de que os clientes se assustassem, ou mesmo se aborrecessem, e fossem embora. Como mais uma vez o golpe dos alvarás (esse verdadeiro suborno branco que se paga à polícia, uma imoralidade na minha opinião) e das papeladas não funcionou, novamente houve a ameaça de atirar no som (já tava achando isso meio lugar-comum) e alguém encontrou com um tio que estava na equipe e este o mandou sair dali, pois a coisa ia “feder”.

O fato é que só havia pivetada que não queria confusão com ninguém e todos acabaram indo embora. Fiquei com a certeza que podia por o Terra em um dos shows, a coisa andaria bem e poderíamos, ao menos, tocar com uma banda do nosso estilo uma vez ou outra. Resolvi começar pela parte mais dura do osso: ligar na cara-dura pro Walteres, vocalista do Terra, apesar dos avisos de que ele me mandaria catar coquinho. Walteres não só me atendeu muito bem como ficou meu amigo, e hoje, mesmo morando nas brenhas da Amazônia, sempre que me encontra me trata com um apreço e uma consideração que poucas vezes vi na vida dentro dessa classe de “músicos”. A reboque vieram o Gordo (que era bem magrinho e tinha o cabelo igual ao do Sideshow Bob, dos Simpsons), o Walcy (irmão do Walteres) e o sempre caladão Júnior. E como Teresina é realmente pequena e a gente nunca para de se admirar disso, nós estudávamos todos em blocos lado a lado na UFPI e não sabíamos.

2 Comments:

At 11:15 AM, Blogger Daniel said...

Legal...pior que o Gordo era magro mesmo. Andei vendo umas fotos dele e o cara era só "a tala" - o sujo falando do antigo mal lavado =P

 
At 1:27 PM, Blogger Mariana Arraes said...

hum... percebe-se que o negócio não é de agora...

 

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