Como Dois e Dois São Cinco?
Contrariando uma ressalva pessoal, fui ao centro à tarde. Nesse calor africano, sair de casa depois de meio-dia tem sido quase suicídio. Como o CD-Player do carro anda quebrado, vou ouvindo a FM da prefeitura. Ouço uma vinheta sobre uma exposição no Clube dos Diários, parecia coisa bacana, digna de um pulo por lá, já que eu ia na praça Pedro II mesmo...
Chego lá, no salão, enormes plotagens faziam homenagens à cantora e radialista Lena Rios, a 'Barradinha', como é chamada carinhosamente pelos amigos. Lena é uma amazona, uma mulher-maravilha. Na Teresina dos anos 60 e 70, bateu de frente com a sociedade hipócrita, conservadora e machista. Se mandou pro Rio de Janeiro no balaio de Torquato Neto e gravou um compacto duplo (duas faixas de cada lado) na Polygram (hoje Universal). Os labirintos e abismos físicos, espirituais e pessoais não deixaram a Barradinha ficar pela Cidade Maravilhosa, e lá se vêio ela de volta, dessa vez pra brilhar nas rádios e ser pioneira novamente, como uma das primeiras vozes femininas na imberbe transmissão FM, em meados dos anos 80. A mulher tem estória muita, toda ela devidamente contada num livro que o Kenard Kruel jura que está pra lançar, junto com uma edição em CD do tal compacto duplo. Uma homenagem justa, muito justa, justíssima. Até aí, tudo bem; isso se os outros homenageados não fossem os Beatles e os Rolling Stones...
O Rock (com R maiúsculo) do PI já não é mais nenhuma debutante. Tem estórias, fatos, e alguns candidatos a mito, eu arrisco dizer de olho fechado. Tanto se fala na tal "auto-estima", em sair do "complexo de coitadinho", e neguinho monta homenagem pra duas bandas que de tão "carne-de-vaca" dispensam homenagem? Já que a Lena estava na homenagem, nada mais lógico que puxar tudo que ela ajudou a semear.Nosso Rock tem memória, mangue-se dela ou não, e diante de "homenagens" como essa eu fico pensando que qualquer dia nós e nossos trabalhos (e aí eu puxo a brasa sim pra minha sardinha) vamos ser deletados em detrimento de bandas que têm todo um aparato de divulgação e propaganda lá na Europa ou nos EUA. Não estou sendo xenófobo, muito menos desmerecendo a importância dos tiozinhos ingleses, só me pergunto quanto ainda nós vamos abrir o caminho a facão pra no final das contas entregar a chave do galinheiro de mão beijada às raposas.
1 Comments:
Realmente, até quando?
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