Terehell

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Arroz de Festa 3/5

Este fantasminha (que nem tenho bem certeza se já saiu aqui) voltou a rondar meu som nos últimos dias. Pra muitos fãs do Led é um CD famigerado, mas ele tem lá suas razões pra ser assim. Senta que lá vem estória: Ao ser recrutado pra ser cantor do Zeppelin, Robert Plant não botou muita fé num trabalho ao lado de Jimmy Page, o achava um músico muito sofisticado, técnico, e, até certo ponto, pedante. Page convidou-o então para ir visita-lo num barco no qual morava, ancorado às margens do rio Tâmisa. Plant só passou a vislumbrar um futuro profissional ao lado do guitarrista quando deu de cara com montanhas de discos não só de Country Blues, R’n’B e Rock americanos, mas também da nata do Folk e da Soul Music produzida na terra do Tio Sam. Partiu daí um desejo de explorar arranjos acústicos, que não se consolidou de cara com o primeiro disco (68) por necessidades mercadológicas, nem no segundo (também de 68) devido a pressa na gravação entre as turnês. ‘III’ têve tempo e espaço para ser ‘gestado’, numa casa de campo de Page, Bron-Y-Aur, durante 69 e 70. O lado A até que envereda por caminho pesados, em ‘Immigrant Song’, Celebration Day’, ‘Out In The Tiles’ e na eletrificação máxima do blues de ‘Since I’ve Been Loving You’; mas já está lá ‘Friends’, logo na segunda faixa, um legítimo folk inglês onde Page usa pela primeira vez arranjos orquestrados tocados por músicos do Oriente Médio. Virando a bolacha a atmosfera acústica não deixa espaço pra mais nada: A banda revisita temas populares, como ‘Gallows Pole’ e ‘Hats Off To (Roy) Harper' (fazendo uma brincadeira/homenagem no título a um artista folk muito querido na cena inglesa da época e que atravessava problemas na carreira e na vida pessoal por abuso de drogas), usa e abusa dos talentos de arranjador de John Paul Jones em ‘That’s The Way’ e não deixa de aplicar uma balada acústica em ‘Tangerine’. Bonzo também não foi desperdiçado, como haveria de se pensar, seus grooves, pesados como uma avalanche, se fazem presentes, mesmo quando este encara apenas uma ‘simples’ percussão. ‘III’ foi na verdade um laboratório para o próximo passo da banda, que seria criar arranjos mesclando passagens acústicas e eletricas. ‘Starway to Heaven’ e ‘Kashmir’ não existiriam sem ‘III’, e faixas acústicas passaram a ser constantes não só em todos os álbuns seguintes do Zeppelin até o final de sua carreira em 1980, mas também em discos como “No Quarter - Page & Plant Unledded”, de 1994.

Led Zeppelin - " III " - 1970

(Publicado em 17/09/2005 em http://www.fotolog.com/terehell)