A Dura, Parte I - Caé Pesado
Nunca tive grandes envolvimentos com a polícia, apesar de ter alguns amigos, chegados e até parentes policiais, civis, militares, federais, etc. Tenho sorte das vezes que a ‘dita’ cruzou meu caminho foi de maneira cômica, mas dou meu desconto aos protetores da sociedade, eles só estão lá defendendo o deles, mesmo que de forma atrapalhada.
Quem passasse, por volta de 1996/97, naquele pedaço da Quintino Bocaiúva, entre a Benjamin Constant e a avenida Campos Sales, bem no centro da cidade, não desconfiaria que por trás de um portão baixo escrito “garagem” funcionava um bar. O Cabo Caeseral saiu da cabeça antenada de Rubinho Figueiredo, uma figura que por si só já daria um blog inteiro. Decidido a viver de música, Rubinho cansou de peregrinar nos botecos da cidade dando canjas e matando um troco com o violão debaixo do braço. Um dos bares onde ele ‘passava o chapéu’ ficava perto da casa de sua avó e, chegado a um rabo-de-saia, Rubinho logo jogou suas tranças (e tiques) pra cima de uma das irmãs que tomavam conta do bar, duas beldades filhas da cidade de Piracuruca (a outra irmã...bem, abafa o caso). Ao invés de cair nas presas do galanteador, a moça passou o bar para Rubinho, pois já estava de saco cheio dali.
Nosso herói vislumbrou ali um filão: abriria um bar onde poderia tocar, ganhar dinheiro significativamente com bebida e também acolher a profusa produção cultural local (quando eu digo que esse papo é véio...). Como de boas intenções o inferno está lotado, foi criado o projeto conhecido por “Lança-Banda”: Nos domingos à tarde o Caeseral abriria suas portas para três atrações e mais uma jam no final (todo mundo tocando de graça, só pela oportunidade de poder pisar num palco). É lógico que o lugar pipocava de gente, e Rubinho e seu sócio, Paulo Utti (hoje no Mano Crispim), tinham um certo tino pra escalar o povo. Numa dessas escaladas deveriam tocar algumas bandas da zona norte, entre elas o Terra Podre, do hoje Káfila Eduardo Crispim (o Terra tinha uma performance muito extrema, com direito a moshes de peito no cimento, mas deixa que eles voltam mais adiante...) e mais o Monasterium, que depois de dois anos ensaiando, e fazendo muito boca-a-boca, finalmente iria mostrar um pouco de serviço.
O fato é que nesse dia Paulo Utti deveria tocar em um aniversário, e Rubinho descuidou achando que tudo sairia tranqüilo. O local encheu rapidamente e Rubinho se viu de mãos na cabeça. Como eu e o Saldanha estávamos de bobeira por lá, resolvemos ajudar a vender no bar, assim Rubinho poderia tomar conta do som, emprestado do Lino, pra variar. Estava tão cheio que não percebemos a chegada de três homens vestidos de cor cinza e portando pequenas metralhadoras na mão.
“Vocês estão vendendo bebida a menores aqui?”. Tinha tão pouco contato com um policial que demorei a perceber que era um. Apontei para um cartaz atrás de mim que avisava da proibição de venda de álcool a menores. “Quero ver sua documentação, nós recebemos uma denúncia que vocês estão irregulares por aqui”. Rubinho puxa um dos guardas até a cozinha do bar e saca um calhamaço de papéis, nervosamente. Lá fora, o som para e as pessoas, notando a presença da policia, começaram a ficar um tanto agitadas. Depois soubemos que um dos policiais chegou a sugerir, próximo a uma amiga nossa, atirar para o alto a fim de dispersar as pessoas e irem embora logo, fechando o bar.
“Olha você tem toda a papelada, mas eu vou ter de fechar seu bar, porque uma pessoa de preto chutou o cachorro do seu vizinho do lado aí fora”. Rubinho entrou em pânico, tentou argumentar que mandar as pessoas embora, aquela altura, causaria uma confusão tremenda. “Se vire! Ou você vai lá e manda todo mundo embora ou nós atiramos no som!”. Acabou sobrando pro guitarrista Mike Soares, que apareceu de “turma-do-deixa-disso”, ir até o microfone e explicar a situação. Aos poucos o local foi esvaziando e quando Rubinho passava o cadeado no portão o Monasterium chegou em grande estilo, totalmente paramentado, para o seu grande show de estréia, que já tinha sido desmantelado não tinham nem eles saído de casa ainda.
O Caeseral durou cerca de um ano e meio, mas o projeto Lança-Banda migrou para outros espaços ainda por um tempo, botando muita gente boa no palco pra dar a cara à tapa pela primeira vez. Com polícia ou sem polícia.
3 Comments:
Bendito seu blog e sua memória de contar esses causos para nós. As vezes eu acho que tu deveria escrever um livro.
"uma pessoa de preto chutou o cachorro do seu vizinho do lado aí fora”.
uahuahuhuauahuah!! vizinhos... sempre atrapalhando mais do que ajudando!
tu só quer ser,FDP! escreve logo a poooorrra desse livro!!!!fica dando de conta gotas!!mostra tuudo,ow,seo cagão!kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
POW,A DO CARA DE PRETO QUE CHUTOU O CACHORRO FOI DUCARÁLÉO!
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