Terehell

terça-feira, março 07, 2006

Sobe & Desce


Há oito anos atrás eu saí de uma casa e vim morar num edifício. Várias pessoas dão testemunhos de como não se adaptam ou nunca se adaptariam em morar num prédio. Pra mim, sinceramente, tanto faz; meu negócio é estar morando. Os mesmos hábitos que eu tinha morando numa casa foram mantidos quando me mudei, o mais sagrado deles: não gosto de papo com vizinho.

Calma, me entendam. Eu não hostilizo a vizinhança. Apenas gosto de passar pra dentro de casa e não ter de dar satisfação do que faço lá dentro, muito menos de ter de compartilhar da privacidade de quem está em cima, ao lado ou abaixo de mim. Resumindo, em oito anos, entrei em dois apartamentos de outras pessoas no meu edifício. Um o da minha vizinha, pois cheguei de viagem sem a chave de casa e estavam todos com porta trancada e não ouviam a campainha (assim mesmo entrei nos domínios alheios pela porta de serviço). Na outra fui praticamente abduzido por um conhecido a ver seu apartamento (e mesmo assim não passei do meio da sala). Aliás, minto: Eu já estive no apartamento do XSony também, por motivos “profissionais”.

O que realmente pega é o elevador. O elevador seria assim um instrumento de socialização. Um instrumento pontiagudo e perfurante, apontado bem pro seu gogó. Não basta só dar um “bom dia” ou “boa tarde” ou “boa noite”, logo em seguida vem os segundos, às vezes minutos, de constrangimento e intimidade forçada. Já reparei que uns preferem olhar pro chão, outros pro numerozinho crescente ou decrescente, há quem tente quebrar o gelo e puxar um papo rápido, mas nada muito construtivo. Sexo em elevador?! Vocês andam vendo filme demais...

Assim, subindo e descendo, me permiti conviver com meus vizinhos nesses anos: o poeta que desce na cadeira de rodas pra tomar sol, a família que morreu quase toda num acidente de carro, as mães que saem sempre apressadas pra deixar seus filhos na escola, alguns deles já nascidos aqui depois que cheguei, logo ainda os conheço pelo nome. Sou cruel nesse quesito. Se a criança entra no elevador, começo a conversar com ela ignorando o adulto que está junto, este, inevitavelmente, começa a responder o que eu pergunto a criança como se fosse ela. Muito divertido, edificante até, com perdão do trocadilho.

Assim é a vida num condomínio. Pra quem está de fora pode parecer natural que porque moramos uns em cima dos outros (ou ao lado), tenhamos nossas vidas mais atreladas. Mas é justamente o contrário. Nem reunião de condomínio é prestigiada, imagine. A expressão “Área Comum” é até pomposa, mas não passa do lugar onde esperamos, em pé, em frente ao elevador, xingando quem está segurando a porta em outro andar.

3 Comments:

At 11:07 AM, Anonymous Anônimo said...

se vc fosse meu vizinho ía entrar no meu ap "sinzinhô"!
e já que vc faz tanta questão de não sair topando com vizinho por aí... aproveita pra ficar em casa escrevendo o resto da estória lá pq eu tô só na espera!
bjo, querido!

 
At 7:26 PM, Blogger Mariana Arraes said...

eu morei duas vezes em apartamentos... a primeira eu tinha dez anos de idade... a segunda eu já era adolescente... não tinha elevador, o que custou aos meus pais umas idas e vindas às clínicas da cidade [eu caía constantemente da escada!!!]. tinha alguns amiguinhos vizinhos. talvez pela minha idade e a necessidade de ter coleguinhas, eu falava com todo mundo, conhecia a vizinhança. hoje moro em uma casa e todo mundo da minha rua me conhece. nas minhas raras aparições portão a fora, vizinhos sempre falam comigo... agora: me pergunta se eu conheço alguém! rum... hoje em dia, comigo, é no máximo um "bom dia".

 
At 7:14 AM, Anonymous Anônimo said...

eu seguro!eu seguro meeesmo!geral fica puuutaaaa!!!!kkkk!!!mas é vc que anda vendo filme de menos! com vizinho não pq nunca os tive bacanas mas com o namoradinho,é o que há!kkkkkk!!!

 

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