Terehell

segunda-feira, abril 14, 2008

Vi, Vidi, Vinci

Sim,eu fui e voltei mais uma vez. Mais uma vez resisti à estação de chuvas loucas que assola Pernambuco no mês de abril, também sobrevivi aos pedintes pentelhos de Olinda, aos taxistas suicidas e até a um raio no aeroporto. Tudo isso pra ver mais um Abril Pro Rock, o festival mais legal e economicamente viavél pra mim. E olha que o calendário em Recife é puxado: paralelo ao festival tinha Maria Bethânia e um desses shows-tributo à Bossa Nova, com Fernanda Takai e Emílio Santiago (glup!). Muita caretice pro meu gosto. O festival esse ano foi no chiquérrimo Chevrolet Hall, que como outros tantos 'halls' Brasil a fora é bastante grande e bastante padronizado. De melhoria considerável nessa mudança a ausência de congestionamento nas barracas de comes e bebes, e os banheiros, sempre limpos e aptos pra uso à qualquer momento. Na sexta uma abertura com os locais do The Amps e a banda do menino Foka, The Sinks, direto de Natal. Depois um Project 666, que, como o nome sugere, só é indicado pra galera do "roque preto". Momentos pra nunca mais esquecer a cargo do Mukeka di Rato e uma roda gigantesca de umas 50 pessoas, coisa possível de se ver só por aquelas bandas. Bad Brains eu tinha lá minhas dúvidas se ia conseguir passar a real expressão da sua mistureba pro público, mas foi jogo ganho. Tocaram bastante coisa antiga, do primeiro disco e do "Rock For Light", duas ou três de "I Against I" e, até onde eu percebi, nada da fase "Quickness", mais pesadona, a única falha (até onde isso foi possível) no show. Vamoz! é minha banda pernambucana preferida desde a ida dos Astronautas pra SP, e Zumbis do Espaço mostrou experiência de palco e contou com uma sintonia do público, o que com certeza deixou a banda bastante surpresa. Thor Zanathas é um figura. A frente dos Zumbis ele emula Elvis circa Vegas, Johnny Cash e Glen Danzing, tudo numa persona só. Grande frontman do udigrudi nacional, sem dúvidas. New York Dolls, mesmo reduzido a 2/5 da formação original, deu aula. São dois discos só com clássicos, impossível errar. os músicos novos são afiados e sintonizados na estética dos Dolls. Nem o som um tanto embolado e David Johannsen meio atravessado com o andamento no início do show estragaram a parada. Já bem tarde fui parar numa lanchonete na entrada de Olinda, com uma galera da lista Nordeste Independente e quando dei por mim era 4:00 da manhã, dali a três horas eu acordaria pra tomar o café na faixa da pousada, procurar uma lan pelas ladeiras de Olinda e voltar pra capotar na cama; isso resume bem meu sábado até as 17:00, horário em que supostamente os portões do tal hall se abririam novamente. Supostamente, porque Lobão passando som com seus 500 violões causou um atraso gigantesco. Em represália não fiquei pra ver o show dele, o último da noite. Madalena Moog (PB) e Erro de Transmissão (PE) tornaram a mostrar que a lavra do Rock está longe de se acabar, mas banda tem de ter cancha, dominar palco, não apenas repetir ensaio. Isso tudo sobra pro Sweet Fanny Adams, que apesar do nome não toca glam rock, e sim algo mais próximo de Placebo das antigas, Franz Ferdinand e Strokes. Todo mundo é novinho, mas todos têm entrosamento e segurança, visão periférica do show e mantêm a rédea segura. Autoramas, apesar de ter trocado de formação a coisa de um mês, fez show 100%, sem deslizes, cheio de hits e espantou a canseira que já ameaçava. Violins (GO) é bastante querido pelos indies teresinenses, mas a mim não chocou. Tem um pé no emo embrionário de Mineral e Hot Water Music, um cabecismo Radiohead nas letras, e só. Já que ninguém reclamou, então tá tudo certo. Wander Wildner me causava certa expectativa pelo fato de andar divulgando que mudaria (de novo) de estilo. Não vi muita mudança. Uma banda afiada, com o lendário Jimi Joe nas guitarras, a cozinha segura de Georgia Branco e Pitchu (ambas ex-revival das Mercenárias) e mais um gaita (não de boca, um sanfoninha), teclados e um violino, pra dar aquele toque Tom Waits. Wander sabe se espraiar bem na seara do rock gaúcho, pinça clássicos do repertório alheio, como "Amigo Punk", da Graforréia Xilarmônica, e "Sandina" (de Jimi Joe), hit dos próprios Replicantes. Também tem os seus: "Bebendo Vinho", "Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te amo" e "Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro". De tanto passar pela cidade e confraternizar com músicos e público, restou a Wander se sentir em casa e sair nos braços do povo. Muitos se entusiasmaram a elegê-lo logo o melhor do festival. Se não fossem os neo-zelandeses do Datsuns, que tocaram logo após os sergipanos do Rockassetes; uma lenhada na linha Radio Birdman/Hellacopters, com peso e melodia na medida. Victor Araújo tem apenas 18 anos, podia muito bem ser mais um garoto de classe média pagante do festival, se não fosse uma promessa como interpréte de piano erudito, entortanto Villa-Lobos, frevo, Chico Buarque e "Paranoid Android" com um jeito inusitado de percutir a tampa do piano e diretamente as cordas. Foi prejudicado pela má microfonação do dito cujo e por passar um ar blasé, e até certo ponto pedante, no final da apresentação. Nada que Céu, grávida de seis meses, não curasse. A MPB com tons afro da filha do compositor de "Ursinho Pimpão" agradou e não soou deslocada em momento nenhum. Voltamos a jovialidade e a personalidade de palco dos Superguidis (RS) e lá se vem Flávio Basso, a.k.a Júpiter Maçã. Músicas dos Cascavelettes como "Carro Roubado", "Morte Por Tesão" e "Menstruada" fazem parte de uma época muito bacana da minha vida, e eu realmente me empolguei com a estréia de Júpiter em "A Sétima Efervescência" (98). Mas desandou, infelizmente. A banda puxou o show o tempo todo, Basso parecia siderado e sem voz. Só animou mesmo em "Lugar do Caralho", já que o público cantou por ele. Triste ocaso. Pata de Elefante (RS) vem frequentando meu CD-player há um bom mês, não decepcionaram. Escolha certeira coloca-los no palco menor, assim a performance rendeu mais. Deu pra notar que são bastante prestigiados na cena gaúcha, que saiu do backstage em peso pra vê-los. Nisso aparece o grande lobo, e eu sumi à francesa. Um júpiter maçã já tinha sido o suficiente pra uma noite. Notaram a quantidade de artistas da Monstro no casting? Reflexos da ABRAFIN, e é só o começo. Rumo pro aeroporto numa Recife semi-deserta domingo 7:30 da manhã e me colocam num voô quase que instantâneamente devido a um raio que caira na pista de madrugada, danificando equipamentos de comunicação da torre de controle e as luzes da pista. Caos aéreo my ass : chego adiantado à primeira conexão, em Salvador(?!) e no horário em Fortaleza, onde a coisa realmente atrasou quase uma hora. Quase final de tarde e depois de cruzar os ares de 70% da região NE, chego em casa. Mas toda estória tem uma moral (igual aos desenhos do He-Man). Você se planeja pras coisas, pensa sempre na coisa ficando preta, mas muitas vezes até Murphy se dá mal; e você acaba se dando bem. Essa lição vale pra qualquer tipo de viagem, até aquelas pro interior.

P.S: Acabei esquecendo as crias potiguares do CSS, Barbiekills, mas é que a piada foi tão sem graça que acabou passando batido. Já combinei com um chegado do CE de montarmos uma banda nessa linha, chamada "Cansei Desse Rolê". Do jeito que a coisa vai, periga bombar.

1 Comments:

At 1:24 AM, Blogger J. said...

juro que um dia foi nesso coiso! :D

 

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