Terehell

domingo, março 01, 2009

Arroz de Festa 5/5

Eu relutei. Juro que eu relutei. Entendam: Eu não sou lá esses grandes entusiastas dos Beatles. Dou a eles o que foi deles. Lennon & McCartney escreveram grandes canções, inauguraram o marketing na musica pop, chegaram onde qualquer banda de garagem poderia sonhar em chegar. Só que essa idolatria toda me enche o saco! E outra: ninguém lembra do Ringo, um baterista sub-estimado, no meu pobre entender. Quando eu tinha uns 16 anos, me sobrou uma graninha, decidi dar uma chance aos Beatles na minha discoteca. Os álbuns estavam saindo remasterizados em CD, mas como eu não tinha CD Player ainda (isso era luxo, acreditem), comprei o vinil que também estava saindo remasterizado. Lá fui eu feliz da vida pra casa com uma cópia de “Revolver”, que, diga-se, escolhi aleatoriamente na loja. Não diria que foi uma paixão pelos Beatles a partir daí, mas uma paixão por esse trabalho em especial. Uma coleção de grandes canções, Vamos a elas:
Taxman”: George Harrison abre o disco com uma pérola que o põe lado a lado com John e Paul,
Eleanor Rigby”: Orquestra no lugar da banda, bem ao gosto do produtor George Martin. A letra é uma das mais instigantes a respeito de solidão,
I’m Only Sleeping”: Grande levada de violão, melodia grudentas e um bocejo no meio pra dar um ar “blasé”,
Love You To”: Harrison às voltas com tabla e cítara
Here There & Everywhere” : Seriam precisas 100 Gals Costa pra esculhambar essa música: Uma baladaça
Yellow Submarine” : O sub-estimado Ringo, seu narigão e seus anéis, cantando anasalado. Viraria título do desenho animado da banda posteriormente
She Said She Said”: Experimentos proto-Sgt Peppers. Muitos das nuances dessa música se repetiriam no álbum seguinte
Good Day Sunshine”: Primeira de duas homenagens de Paul a seus mentores da Motown, baixão marcando e metais fazendo cama para a melodia
And Your Bird Can Sing” : Típica beatle song, com vocalizes harmonizando e guitarras estridentes
For No One”: outra assassinada pelos baianos, dessa vez por Caetano no álbum “Qualquer Coisa”, mas seriam precisos 200 Caetanos para “piegaliza-la”. Outra baladaça, com direito a um trompete pontuando e solando,
Doctor Robert”: Claras referências a drogas limaram esta faixa da versão americana de “Revolver”. O personagem principal é um cruzamento entre Bob Dylan, que “batizou” o quarteto na Maria-Tonteira, e a um dentista da Califórnia, que apresentou John e George ao LSD
I Want To Tell You”; George de volta com um riff de guitarra que remete a seu ídolo Carl Perkins
Got To Get You Into My Life”: Parte dois da homenagem de Macca à Motown. O baixo e os metais voltam a duelar, enquanto ele se estraga no microfone em momento “eu sou neguinha”
Tomorrow Never Knows”: Já chamaram essa música de “a mais perfeita”. Se é, não sei, mas novamente o sub-estimado Ringo faz uma das suas batidas mais memoráveis nesta faixa; inspiração para, trinta anos depois, Oasis e Chemical Brothers fazerem “Setting Sun”. A letra foi tirada do 'Livro Tibetano dos Mortos' por Lennon, naquela época flertando com o Budismo.

The Beatles – “Revolver” – 1966

(Publicado em 23/02/2004 em http://www.fotolog.com/terehell)