Patinho de Quermesse
Não sou amigo pessoal do bailarino Marcelo Evelyn. Nunca frequentei a casa dele nem tomei cerveja com ele em boteco pé-sujo. Trabalhei numa relação "artista-diretor" por duas vezes com ele no Teatro-Escola João Paulo II, uma das poucas coisas de 1º Mundo em Teresina. Assim, no passado, porque Marcelo Evelyn, desde essa semana, não é mais diretor de lá.
A cultura no Piauí é algo que sempre vai de mal a pior. Além das panelas de costume, tem a falsa idéia de que quem consome cultura é "elitizado", logo acontecimento cultural, principalmente estatal, é algo semelhante à uma missa negra de altíssimo segredo e apenas pra iniciados. Quem, como eu, correu pelo lado dos "aculturados", reduzido a "pequeno burguês americanizado", nem tem voz nem vez; apesar de esbarrar nos mesmos problemas de recursos pra produção e formação de público.
Entre risos falsos, tapinhas nas costas e chuva de confete, Marcelo Evelyn peitou e enfrentou esse dragão. Assim implantou escolinhas e oficinas pra comunidade do maior bairro da periferia de Teresina, um lugar maior que 80% das cidades do interiorzão brabo do Piauí terra querida. Isso atrai bons frutos, como os grupos estrangeiros que por aqui passaram esse tempo todo, num teatro-escola com agenda fechada com até TRÊS meses de antecedência. Além de formar novos atores, mimicos e bailarinos, o JPII também formava iluminadores, sonoplastas, contra-regras, cenógrafos e tudo mais por trás do pano preto.
Mas assim como atrai bons frutos, também chama inveja, e quem perde com isso são os alunos das oficinas, são os pais e as crianças que não terão mais o Musicálogo nos domingos pela manhã, as pessoas, como eu, que se encantaram não só com os mimicos europeus, mas também com o trabalho de um cara que fazia as coisas com seriedade e responsabilidade. Pena que ser sério e responsável acaba transformando você num daqueles patinhos de quermesse, alvo fácil e almejado, levando chumbinho de todo lado, sem parar.
Tão antigo quanto a democracia é o laconismo, a prática de tirar a mobilidade cultural das pessoas pra que elas fiquem ignorantes e, consequentemente, manipuláveis. Os políticos sabem disso, mas as pessoas que trabalham com cultura sabem melhor ainda. Gente sem cultura não vota em quem quer, mas em quem é mandada.
Terminando como comecei, não tenho qualquer ligação ou vínculo com Marcelo Evelyn, mas me solidarizo com ele e com os que fazem/faziam o JPII ao ver a (pouca) cultura desse estado assim: mais um corpo estendido no chão.
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Foto: Klayton Amorim
5 Comments:
É fernando isso infelizmente já era esperado e todos nós perdemos. abraço
Crédito: Klayton Amorim
Crédito dado...
partilho da indignação...
http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/4087
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