"CHEGA DE PRECONCEITO"
Nós Punk's (sic) Anarquistas e Libertários, lutamos por um mundo mais igualitário, onde o preconceito não exista, tanto para negros, homossexuais, brancos, índios maconheiros (sic)... Seja qual for o tipo de preconceito.
É muito triste ver pessoas sendo discriminadas pela sua classe social, cor da pele, escolha sexual, tipos de roupas, tutuagens, visuais (sic)...
Chega disso! Se somos todos iguais por dentro pra que fazer essa separação?
Abaixo o preconceito!!! Os movimentos punk, anarquista e libertário é (sic) contra todo tipo de preconceito.Não, eu não recebi um panfleto com esse texto (uma tirinha, na verdade, assim mesmo, sem algumas vírgulas e com erros que fiz questão de reproduzir) em 1982. Recebi ontem à noite; das mãos de uma pessoa que, infelizmente, não pratica o que divulga, pois já foi retirado, na porrada, da frente de um palco por estar xingando uma "banda de playboys". Preconceito ele conhece bem, realmente.
Eu nunca fui Punk na vida. Nunca usei cabelo moicano, jaqueta com patch de banda inglesa, coturno, coleira de cachorro com cadeado no pescoço ou alfinete na bochecha. Não recrimino quem já o fez (ou ainda faz, em pleno 2007), cada uma acredita no que quer (ou se ilude, como o dito da tirinha). Toquei em uma banda de hardcore por doze longos anos, e fiz bem mais, por mim e muita gente, que esse povo que vai dar uma de "consciente" e lembrar os outros das mazelas da vida quando eles justamente pagaram ingresso pra esquecer delas por algumas míseras horas. Nunca ditei regras a ninguém enquanto tive um microfone ao meu alcance, por isso mesmo fui avacalhado por esses tipos, que hoje ou estão mortos ou foram parar na Igreja Universal.
Eu nunca fui Punk, porque saquei logo de cara que a mola da coisa toda é o "faça você mesmo", é a libertação máxima do seu eu, correndo atrás do que te faz feliz e plenamente satisfeito. Como pregar Anarquia sem ser político e substituir uma forma de governar por outra (mesmo que essa não tenha um líder)? Ser "libertário" e libertar quem do quê, quando pra lidar com poder você precisa subjulgar? Pregar a queda do preconceito quando você vai cuspir e acusar outras pessoas no meio de um show, por elas "não terem compromisso"? Que compromisso, cara-pálida?
Eu nunca fui Punk, mas soube valorizar uma coisa cada dia mais rara: Personalidade. Soube fazer minha onda de cabeça erguida, jogando limpo, dando um trampo de qualidade às pessoas; mesmo que o máximo que eu tenha conseguido, muitas vezes, foi ser chamado, pejorativamente, de "punk", ou de "sem compromisso".
Eu nunca fui Punk, mas outros antes e depois de mim souberam sê-lo sem nem ao menos ter conhecimento da expressão em si. Basquiat, Jackson Pollock, Miles Davis, John Coltrane, John MacEnrow, Andre Agassi...Jamie Oliver, aquele cozinheiro da TV, tem mais atitude mexendo uma colher de pau que todos os punks caricatos que conheci na vida. Os exemplos seriam muitos e variados, dentro e fora dos campos da política e música. A história da humanidade está aí cheia de pessoas que mudaram o mundo e o jeito de pensar dos outros munidos apenas de personalidade e atitude, sem alugar nem cagar regra pra ninguém e muito menos usar sabão pra arrepiar os cabelos.
Eu nunca fui Punk, sou apenas um ser humano completamente refém da minha imperfeição, e tenho auto-crítica suficiente pra admití-lo. "Fernando, estamos aí, na luta", me disse o sujeito da tirinha ao se despedir de mim ontem. A sua luta, meu amigo, é contra seus próprios defeitos, afim de você ser uma pessoa melhor. Citando outro sujeito que foi "punk" a sua maneira: "Ninguém além de você mesmo pode libertar sua mente". Se cada um fizesse isso, sem nem precisar ser "punk", ou ter os olhos abertos por um, o mundo seria outro.
Eu nunca fui Punk e sonho ainda, com o tempo que me resta, ir morar no mato, cercado de bichos, porque cansei de entender a raça humana. Aí, quem sabe, passarei a ser chamado de "hippie" por causa disso.