Terehell

terça-feira, janeiro 31, 2006

No Direction Home


S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L ! Foram precisos quarenta anos pra fazer um apanhado geral de quem era Bob Dylan, a.k.a Robert Zimmerman, um dos maiores artistas vivos do século XX, na primeira metade dos anos 1960. Poucas vezes se fez um documentário tão cru e esclarecedor a respeito de um artista que sempre usou das metáforas e do non-sense pra se fazer ouvir. Conhecido por sua personalidade arredia e instransponível, Dylan é quase que desmontado, num imenso quebra-cabeças, por Martin Scorcese, outro ícone. A infância em Minnesota, as influências musicais, toneladas de imagens de arquivo (não só de Dylan, mas do "american way of life" dos anos 50 e 60), o engajamento e ruptura com a música de protesto e a eletrificação da "folk music": está tudo aí, numa maratona de quase três horas (talvez o único ponto fraco). A célebre e conturbada turnê de Dylan pela Inglaterra em 1965, com o disco "Highway 61 Revisited", é o pano de fundo que Scorcese usa para contar a estória do garoto judeu que se transformou em poeta, trovador e voz de todo um país. Ao subir nos palcos de uma série de universidades britânicas acompanhado por uma banda de apoio, e com uma guitarra elétrica no pescoço, Dylan apresentou a primeira das muitas reinvenções de sua carreira, reinvenções estas que não seriam derrubadas nem por um coro de vaias. Imagens de arquivo dão a dimensão do impacto causado pelo "novo Dylan", o público dividido, a imprensa pega de surpresa e sem sequer saber o que lhe perguntar nas coletivas, gerando momentos de pura comédia, dado o sarcasmo e a inteligência das respostas, saídas da boca de um gênio de menos de 25 anos na época. Irônicamente, "No Direction Home" termina em um dos episódios mais obscuros a respeito de Dylan: um acidente de moto que o tirou de circulação por quase cinco anos, e que para muitos foi um divisor de águas forçado em sua carreira. Mas justamente aí fica a deixa para uma continuação. Torçamos que sim.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Like a Rolling Stone


Go melt back into the night, babe,
Everything inside is made of stone.
There's nothing in here moving
An' anyway I'm not alone.
You say you're looking for someone
Who'll pick you up each time you fall,
To gather flowers constantly
An' to come each time you call,
A lover for your life an' nothing more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.



"No Direction Home", hoje na Sky, 23:30 (horário de Brasília)

sexta-feira, janeiro 27, 2006

O Retirante Harry-Dean Stanton


"Ainda vai ter que andar muito sob o sol
Abotoar cada botão do paletó
Juntar poeira e vento ao seu suor
Remoer um pensamento
Como Harry-Dean
Harry-Dean Stanton

Ainda falta, pra cruzar este deserto
Ignorar a tudo e a todos, longe ou perto
Não levantar as mãos, os olhos, ficar quieto
Como uma estátua de cimento,
Como Harry-Dean
Harry-Dean Stanton

Se consumir na obsessão, fugir do mundo
Ser um mendigo, andarilho, vagabundo
Ser imóvel, surdo, cego, quase mudo
E escolher o momento
Como Harry-Dean
Harry-Dean Stanton "

(Herbert Vianna, em "Ê Batumaré",1992)

quarta-feira, janeiro 25, 2006

The Wild One


"A primeira versão do Pica-pau, a de 1941, era muito mais perversa e psicótica que as posteriores ficando conhecida como o Pica-pau louco. Nesta ele aparece com listras nas pernas, barriga com penas vermelhas, grandes olhos verdes e dentes salientes."



Happy Tree Friends e Mundo Canibal devem tudo a ele.

Doente!Doente!Doente!

terça-feira, janeiro 24, 2006

Pílulas da Sabedoria


"To everything (turn, turn, turn)
There is a season (turn, turn, turn)
And a time for every purpose, under heaven"

Pílula do dia (ou da noite): "A vida pode ser um colchão d´água, portanto lembre-se sempre que ele pode furar".

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Como Desmantelar Um Boa Voz

Meninos: Eu sobrevivi. Nos últimos vinte anos eu fui bombardeado, num verdadeiro "sunday bloody sunday", por Bono, Edge, Adam e Larry Jr. E estou aqui hoje pra contar minha estória. Minha mais antiga lembrança do U2 data de 1985. Eu tinha uns onze anos de idade, e minha noção de rock não ia muito além de Beatles. O segundo canal de TV aberta estava pra ser inaugurado no estado e como não havia comerciais lá ia Bono & cia, cantando no meio da neve, no clip de "New Year´s Day". Primeira derrota: O U2 não dispertou em mim a chama de ter uma banda, não me fizeram sentir a salvação batendo à porta, não causaram aquele estalo...1 x 0 pra mim.

Enquanto o quarteto irlandês virava febre e galgava degraus importantes em sua carreira, eu acordei pro "lado negro" do rock, e aí mesmo que não quis saber deles. Chegou 1987 e "The Joshua Tree" ganhou paradas de sucesso, clipes em Las Vegas, banda tocando no alto do edifício do Million Dollar Hotel (que ironicamente viria a ser cenário de um fiasco cinematografico deles anos mais tarde) em Los Angeles, resenhas dissecavam o significado de letras, repletas de metáforas judaico-cristãs, e Bono virou uma figura messiânica. Mesmo bombardeado por posters encartados em revistas e uma propaganda de marketing milionária, que fazia ter ânsia de vômito a simples menção do nome U2, eu segui em frente. Por todo lado todos tinham uma cópia de "The Joshua Tree" (um disco que quase vinte anos depois ainda tem muita coisa a ser descoberta), menos eu. 2 x 0 pra mim.

Já lá por 89 eu começava a enxergar a luz fora do lado negro do rock, enquanto o U2 vivia um passo importante em sua carreira: A conquista do mercado norte-americano. Nenhum artista é milionário suficiente enquanto não faz sucesso na terra do Tio Sam. Lá estava a MTV, os estádios de baseball, Memphis, a Sun Records, Elvis, os chapéus de cowboy e todo o DNA do rock´n´roll que o U2 foi buscar e retratou no documentário "Rattle & Hum", que um amigo da escola me aporrinhou pra ver durante semanas, mesmo que eu só me mostrasse interessado numa banda americana que corria por fora, fazendo sucesso nas rádios universitárias independentes dos EUA, um tal de R.E.M, que ninguém ,fora eu, conhecia. Fernando 3 x Irlanda 0.

Depois de toda super-exposição era mais que provavel que eles sumissem por um tempo. Um longo tempo. Quase três anos separam "Rattle & Hum" de "Achtung Baby". Muito se apostou numa acomodação da banda em relação ao sucesso e ao mercado. Aí eu caí, pela primeira e única vez no conto do Bono. "Achtung Baby" não só me surpreendeu como me cativou. É muito difícil pra uma banda se re-inventar, e ainda mais mudar uma imagem de bom-moço de seu frontman. Pois além de correrem de braços abertos pro mundo da música eletrônica (sem exageros e sem perder o fio da meada), Bono ainda virou um cara realmente cool, malicioso e politicamente incorreto com uma cigarrilha na boca, brincando de diabo irlandês, com grandes óculos de rockstar, e ainda por cima satirizando a mídia que o pôs no topo, tema central da turnê "Zoo TV". Um amigo de outro estado me disse uma vez que nos tornamos grandes quando aprendemos a rir de nós mesmos. E foi bem aí que Bono cresceu aos meus olhos. Escaparam do "capote": 3 x 1.

Correndo do rock em direção as pistas de dança, o U2 passou batido pelo Grunge e a consequente ressaca causada pelo mesmo, lançando uma série de discos onde flertavam mais e mais com as possibilidades modernosas da música eletrônica, sem perder o apelo das baladas e das turnês megalômaniacas, que acabaram trazendo a banda pela primeira vez ao Brasil. Lembro de ver esse show com dois amigos devotos e outros dois, fora eu, nem tanto. Na década de 90, a das guitarras, os loops e programações deram a tônica do trabalho. Pausa pra tomar uma água e receber instruções do técnico.

Para a virada do século, já no nincho que lhe cabe por saber administrar bem o nome, o quarteto ensaiou um "back to basics", tirando até a guitarra com a qual The Edge gravou o hoje longinquo "Boy" (81) do fundo do baú. Um dos meus amigos devotos mostrou-se admirado por "All That You Cant't Leave Behind" (2000) ter arrancado alguns elogios meus. Pra ele, um adorador desde os primórdios, era um "trabalho menor", a banda estava "se repetindo". Profeticamente, é o que eu acho de "How to Dismantle an Atomic Bomb" (2004), finalmente o U2 vai se repetir ad nauseum, com seus refrões de arena, seus harmônicos de guitarra, baterias tribais e baixos marcados. Bono vai continuar seu marketing pessoal pedindo o fim da dívida externa dos países pobres, enquanto num longiquo país tropical de terceiro mundo pessoas dormem na fila, até com crianças recém-nascidas, para conseguir ingressos para seus concertos. De marketing eles sempre foram bons, começando do nome. Eu que sou um mal consumidor. Não há mais chance de me fazer revisitar os discos dos anos 80, não depois de eu saber que existem na face da terra Bob Dylan, The Clash e Gang of Four. Vou ver pela TV, ou quem sabe no próximo DVD da banda.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Bonner Simpson

Palavras de William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, da TV Globo, o jornalistico televisionado mais visto em toda América Latina e que custa 200 mil reais 30 segundos de intervalo, a UOL:

Para William Bonner, apresentador e editor-chefe do "JN", o telespectador médio do telejornal é como o Homer Simpson, pai folgado e bonachão da família de "Os Simpsons". Ou seja, tem dificuldade de entender reportagens sobre temas mais complexos, como o jogo de interesses da política em Brasília e os números áridos da economia e finanças.

Será que agora que ELE PRÓPRIO disse, a gente resolve cair na real?

terça-feira, janeiro 17, 2006

The Death Is Not The End


Um pouco antes do Natal eu cansei de ver reprises e de esperar a Warner passar a 4ª temporada de "Six Feet Under" (Sem falar que empurraram a reprise pra domingo, 02:30 da manhã, horário de verão. Ninguém merece...). Tá certo, eu como muitos, já havia baixado o último episódio, não resisti mesmo. Mas faltava saber como tudo tinha desembocado naquele anti-clímax. Saquei do meu voluntarioso Soulseek e comecei a baixar um por um os episódios apartir da 4ª temporada. Melhor coisa que fiz em 2005.

Não tem pra ninguém: A saga da família Fischer, dona de uma funerária em Pasadena, Califórnia, é, disparada, a melhor série de todos os tempos. Podem os trekkers e fãs do "Arquivo X" fazerem vigília aqui na porta de casa, não volto atrás. Roteirizada, e as vezes dirigida, por Alan Ball , o mesmo do multi-oscarizado “Beleza Americana”, SFU trás humor negro e situações insólitas, costurados por dramas existenciais, onde drogas, homossexualismo, adultério, gravidez, violência urbana e incesto permeiam o grande apogeu da vida: A morte.

A morte está em todo lugar em SFU. Sempre no início de cada capítulo, depois na casa dos Fischer, que funciona como casa mortuária, embalsamando e velando os que morrem em cada “obituário”. Mortes estas que ao avançar da série tornam-se cada vez mais irônicas (e por vezes, porque não, cômicas), fazendo-nos tolerar até que os Fischer aceitem conselhos ou sejam atormentados pelos mortos, num estado de quase-sonho que nos leva a crer em nossos próprios fantasmas.

Mas ainda tem muita água pra rolar debaixo da ponte na vida de Nat e Brenda, agora mãe-postiça da órfã Maya; de David e seu namorado Keith, candidatos a pais adotivos ; da possessiva e neurótica Ruth, agora casada novamente, com o igualmente neurótico George; sem falar de Claire, a caçula dos Fischer, que vai crescer cada vez mais na trama; todos impreterivelmente “assombrados” pelo patriarca Nathanael, um misto de figura da Morte e consciência falante.

Vá por mim, vai valer muito a pena ficar acordado até mais tarde nas noites de domingo.

Six Feet Under – Warner Channel (canal 44, Sky) – Domingos 02:30 am (reprise 3ª temp.)
A Sete Palmos – SBT – Nas madrugadas, quando você tiver sorte.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

A Marca do Besta


Você, assim como eu, já deve ter recebido aquele e-mail, tipo corrente, que avisa, do avanço da Microsoft como sendo um sinal do Apocalipse bíblico. Só pra refrescar a memória, o dito-cujo relaciona passagens do evangelho de João com o marketing da empresa de Bill Gates, o anticristo em pessoa, como por exemplo a marca da besta ser a bandeirinha do Windows, e por aí vai...

Exageros à parte, o e-mail é muito ingênuo e engraçado, além de mostrar que a leitura do livro sagrado dos cristãos é muito aberta a diferentes entendimentos (e justamente aí mora o perigo, mas isso é outro departamento...). A pessoa que o escreveu (o anonimato virtual é muito empolgante) só esqueceu que até a besta do Apocalipse tem concorrentes nesse mundo-cão. Se a bandeirinha do Windows está na grande maioria dos computadores, a maçã da Apple está entrando pelos ouvidos agora.

Particularmente aqui em casa, a para-Besta entrou pela porta da frente, dentro de uma caixa que mais parecia uma torta de padaria. O famigerado IPod era daqueles Mini, tem "apenas" 2 giga de memória, o que o permite armazenar mais ou menos uns 15 a 20 CDs. De cara me pareceu mais um desses brinquedinhos que viram febre e depois ficam rebolados num canto, mas convivendo com o desgraçado eu percebi que estamos fritos.

Pra começar ele carrega direto da CPU pelo cabo USB, sem precisar ir pra tomada; resumindo: enquanto vc joga as músicas pra dentro, ele se re-alimenta. Armazena e classifica as músicas por àlbum, artista, tem modo randômico e joguinho. or um pequeno dislize na hora da instalação, tivemos (ele é da minha namorada, não meu) de pedir socorro a um amigo que também é dono d eum IPod. Aí a coisa dispirocou: Descobri que existem IPods maiores, de 20 e 40 giga, que rodam videoclipes e são usados até como som de carro. Isso sem falar nos designs do bichinho, propicios até a algum louco mais endinheirado começar a colecionar.

Há quinze anos atrás liamos assustados notícias sobre assassinatos por pares de tênis. Hoje, nos EUA, já se mata por um IPod. No Brasil, gravadoras dão IPods de "jabá" aos jornalistas afim de divulgar artistas. Se eu vou comprar um? Dificilmente. Primeiro por estar acima das minhas possibilidades financeiras (mesmo o mini), depois eu sou desaconselhado por ordem médica a usar esses aparelhinhos que botam decibéis diretamente pra dentro do ouvido. Mas isso não vai impedir a besta em forma de maçã de pegar os mais susceptiveis pelo atalho mais rápido: a mudança de padrão de consumo.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Taí, Mamãe...


...A nora que a senhora tanto pediu a Deus. Agora o juízo não vem incluso.