Terehell

terça-feira, outubro 25, 2005

A Vida Imita a Arte


"O Doutor Simão Bacamarte, cientista de nomeada, monta, em Itaguaí, um hospício, a Casa Verde, onde pretende executar seus projetos científicos. Pretende separar o reino da loucura do reino do perfeito juízo, mas a confusão em que ambas se misturam acaba aborrecendo o Doutor, que, para levar a efeito a seleção dos loucos, tem que saber o que é a normalidade. Assim, qualquer desvio do que era o comportamento médio, a aparência pública, qualquer movimento interior, que diferisse da norma da maioria era objeto de internação. O hospício é a Casa do Poder, e Machado de Assis sabia disso muito antes da antipsiquiatria de Lacan e das teses de Foucould.

No início, o projeto do Dr. Simão Bacamarte é bem recebido pela população de Itaguaí, mas a aprovação cessa quando o médico passa a recolher na Casa Verde, pessoas em cuja loucura a população não acredita. O barbeiro Porfírio lidera uma rebelião contra o hospício que é sufocada.

Numa primeira etapa, são internados os que, embora manifestassem hábitos ou atitudes discutíveis, eram tolerados pela sociedade: os politicamente volúveis, os sem opiniões próprias, os mentirosos, os falastrões, os poetas que viviam escrevendo versos empolados, os vaidosos, etc.

Para pasmo geral dos habitantes de ltaguaí, Simão Bacamarte, um dia, solta todos os recolhidos no hospício e adota critérios inversos para a caracterização da loucura: os loucos agora são os leais, os justos, os honestos etc.

A terapêutica para esses casos de loucura consistia em fazer desaparecer de seus pacientes as "virtudes", o que o Dr. Simão Bacamarte consegue com certa facilidade. Declara curados todos os loucos, solta-os todos e, reconhecendo-se como o único louco irremediável, o médico tranca-se na Casa Verde, onde morre alguns meses"

Itaguaí te lembrou uma certa cidade que agora vai dormir às 2 da manhã, tornando-se uma imensa "Casa Verde"?

Simão Bacamarte te lembra um certo alguém?

Alguém falou a palavra "Ficção"?

terça-feira, outubro 11, 2005

Fight For Your Right (To Party)


party for you right to fight
Terehell

Ato Contra o Toque de Recolher
Sábado (15/10) pra domingo (16/10) - 02:00AM
Av. Raul Lopes

P.S - Facilitando o serviço:

- Sou um cidadão mediano, empregado, contribuinte em dia, sem ficha corrida, sabedor dos meus direitos e deveres, em dia com minhas obrigações eleitorais e que exerce o seu livre direito de pensamento e expressão, que me é garantido constitucionalmente, inclusive.

Beleza?

segunda-feira, outubro 03, 2005

Túnel do Tempo


22 de abril de 1985. Segunda-feira. Um menino de onze anos acorda assustado pensado que ia perder a hora da escola. Chovia. Sua primeira aula do dia era Educação Artística. Um trabalho muito complicado pra entregar, valendo pontos e fragilíssimo de carregar. Havia consumido boas horas daquele final de semana, com poucas escapadas pra ver o jornalista Carlos Dorneles ler os boletins sobre a saúde do presidente eleito Tancredo Neves, internado com uma crise de diverticulite aguda. Todos comentavam ao seu redor que Tancredo já havia morrido, que os militares não gostavam de seu vice, José Sarney e que as fotos e imagens dos jornais, revistas e TVs eram montagens. O feriado havia caído no domingo, descobrimento do Brasil e Tiradentes. Mas a escola era rígida, o pai também era. Admitia tudo, menos perder escola. Mesmo com chuva. Ia chegar com o tênis inchado, ficar a aula toda com frio pelo uniforme molhado. Agasalhou o trabalho embaixo da farda. Dobrou a direita na esquina da rua Arlindo Nogueira, não havia como fugir das canaletas transbordando pelo acumulo de folhas e terra, tinha de pisar na água. Até que seria divertido, fosse a tarde, depois da aula. Esgueirou-se por toda marquise que ia encontrando pelo caminho, limpando as gotas do rosto pra enxergar o caminho. As ruas desertas. Onde estariam os pais levando seus filhos de carro pra aula? Onde estariam os outros alunos da vizinhança com quem sempre cruzava, indo a outros colégios do bairro? Frutarias e mercearias, os primeiros que abrem pela manhã, fechadas. Dobrou a esquerda na Benjamin Constant. Nada de carros em direção a escola. 06:30 da manhã, era pra estar bem movimentado. Esquina com a Gabriel Ferreira, só o barulho da chuva. Onde foram todos? É segunda. Um amigo mora um quarteirão abaixo. Os pais não gostam que atravesse a Campos Sales. “É rua, mas tem movimento de avenida”. Chama pelo amigo junto ao portãozinho de madeira. O amigo morava com uma tia solteira. Já prevendo que algo tinha acontecido, só consegue perguntar, sem graça: “O Carlinhos terminou o trabalho dele?”. Do outro lado da portinhola de madeira a tia pergunta: “O que você faz aí molhado? Não tem aula hoje. O presidente morreu ontem, dez da noite, depois do ‘Fantástico’. Você não viu não?” Tinha dormido cedo, saído apressado de casa pra não perder a hora, pra cumprir a lei patriarcal de nunca faltar à aula, não viu nem falou com ninguém. “Tia, posso ligar pra minha casa?” “Mãe? Meu trabalho molhou todo...”. “Você saiu pra escola? O presidente morreu, você estava dormindo. Volte pra casa, o general Figueiredo mandou dar feriado”. Faz todo o caminho de volta pra casa; o pai abre a porta. “Vai tirar essa roupa molhada, menino!”. O trabalho amassado, borrado e encharcado, quase em decomposição, fica pelo meio da sala.

domingo, outubro 02, 2005

Estado de Sítio


hands up!
Terehell

Acabo de descobrir um dom: Sou vidente. No decorrer da semana, depois de assistir as declarações do xerife Robert na TV sobre a fabulosa, milagrosa, estupenda, feérica,etc etc idéia de fechar bares e traillers, bem como festas, a 01 da manhã, me vêio um flash de luz, cegante, quase um holofote, como os que o xerife adora. No meu insight, garçons, chapeiros, caixas, bilheteiros, vendedores de chiclete, caipirinha, cigarro, flanelinhas e toda uma fauna noturna de trabalhadores formais e informais passarão a roubar, assaltar e praticar toda uma onda gigante, tipo Tsunami, de saques e arrastões pela cidade. Sem poder trabalhar, pois o xerife quer coibir a criminalidade, esses pais-de-familia vão aderir à mesma. A que ponto nós chegamos? RR quer se livrar de um rato tocando fogo na casa inteira, e não estranhem se ele depois resolver debelar o fogo com gasolina. (Im)posta em prática tal façanha, preparem-se: Os alunos dos colégios particulares e públicos serão obrigados a cantar o hino nacional na quadra antes da aula, os álbuns de figurinha trarão na sua primeira página, obrigatoriamente, as armas da nação, os chefes do exército, marinha e aeronáutica, bem como o presidente da republica, os discos vão vir com faixas proibidas a execução pública, EMC e OSPB voltarão a ser matérias obrigatórias, e jornais, TVs e rádios passarão pelo crivo de um araponga. Amigos, Medelin já é aqui.