Terehell

segunda-feira, setembro 26, 2005

De Olhos Bem Puxados


Kardec, saquês e estricnina
Terehell

Em sua terceira encarnação (ele não aparece no anterior, BR-163) o detetive particular e garanhão de plantão Remo Bellini vê-se as voltas com uma morte que envolve espíritas e máfia oriental. Tony Belloto cita em entrevistas meia dúzia de escritores policiais como influência, mas Simenons e Hammets à parte ele cai mesmo é pra vêia de John Fante, não só na construção de um alter-ego (Bellini, torce para o Santos, ouve Blues sem parar e é figura fácil ao lado de belas mulheres) mas também no texto seco e direto, fugindo da estante de infanto-juvenis ao temperar o enredo, bem amarrado, com sexo, morte e personagens bizarros e surreais. Bellini ganhou uma encarnação nas telonas, na pele do galã global Fábio Assunção. Alguém mais “tosco” como um Humberto Martins seria mais apropriado ao papel, já que José Mayer já passou da idade. Mas se os deuses da cinematografia forem realmente sábios, Bellini vai continuar tomando sua cervejinha no caga-sangue “Luar de Agosto”, ouvindo Muddy Waters no walkman e povoando apenas o mundo das letras.

terça-feira, setembro 20, 2005

Mila, 17 anos.


respeitavél público...
Terehell

Eu e Mila já nos conheciamos há quase um mês. Nos cruzamos na noite, enquanto eu passava próximo a sua moradia temporária na cidade. Já havia me atraído seu semblante solitário, suas formas agigantadas, sua solidão perene sob a lona do que vem a ser, como diz um amigo meu, "o banheiro da praça de alimentação do circo original". Mila é uma ninfetinha de algumas toneladas, está na flor dos seus 16 anos, e vai fazer 17, bem embaixo do sol escaldante de Teresina. Mesmo sendo um animal originário das savanas, com clima e vegetação bem próximos ao nosso, não convém esquecer que Balneário Camburiú-SC, seu endereço fixo, não conhece, nem mesmo no verão, temperaturas iguais as nossas. Mila vive a sina dos animais de circo: vive presa, barganha truques por comida e é "bem-tratada" em favor da sua durabilidade como atração, e nada mais. Sua pele tem manchas, provavemente das cutucadas dos treinadores e não lembro de, quando nos cruzamos na balada, ela estar deitada a dormir. Mila vai apagar velinhas. A jovem mocinha virou promoção de um caderno infantil de um jornal local, crianças vão enviar cartas com frases congratulando a rotunda aniversariante e concorrer a entradas pro circo, e assim assistir a apresentação mecânica da monstrenga. Em sua temporada de B-R-Ó-BRÓ, Mila tem tempo pra sonhar com as savanas (elefantes tem boa memória), quem sabe fazer planos de ter filhotes, ou, na mais provável e melhor das hipóteses, aposentar-se e ir curtir a terceira idade em algum zoológico. Fazendo planos para o futuro e pensando em sua festinha, Mila nem se dá conta que ainda vai enfrentar uns bons 5.000 kms de volta até SC, pegando sol e chuva, e chegará lá uma atração um pouco mais castigada. Debaixo da sua lona-camarim, no calor, no barulho dos carros que passam na pista bem próximos a ela, Mila faz gracejos com sua tromba para as crianças que se juntam na calçada para vê-la e, quem sabe mais tarde, pagarão entrada para ver o resto do espetáculo. Mila é um bicho, mas vive a sina de absorver as neuras e nóias dos seres humanos, a quem está atrelada. Nada difere sua lona-camarim dos backstages da vida. Em qualquer situação, Mila tem de dar seu show, mostrar a simpatia de sua presença e nunca falhar. E se falhar, que falhe feio, pra entreter mesmo assim. Nesse ponto nos assemelhamos a Mila, e ela se torna incrivelmente mais poderosa do que já é, por se manter passiva, debaixo da lona, no calor, levando cutucadas e sonhando em estar bem longe daqui.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Tharrollladrão !


yeah...
Terehell

Desde a última segunda-feira a MTV Brasil exibe na faixa das 23:30 o programa “Familia MTV” com o cantor, compositor, dono-de-banda, filho dedicado, marido apaixonado e malandro alado Alexandre Magno Abramo, vulgo Chorão, cantor da banda santista Charlie Brown Jr. Figura controversa, Chorão já deu muitas cabeçadas na vida (uma delas no cantor Marcelo Camelo, está lhe rendendo uma cefaléia nos tribunais), vendeu muitos e muitos CDs falando em uma gíria própria, pulando feito roqueiro, enfiando a palavra ‘skate’ 30 vezes em cada frase ou depois de cada palavrão gratuito, aliando-se aos manos da quebrada ao falar de hip hop mas sendo consumido por uma meninada que acha que Mano Brown, Carlinhos Brown, Benito di Paula e Charles Schultz é tudo a mesma coisa. A tática já foi usada antes. Quando precisou dar um pique em sua carreira-solo, Marcelo D2 estrelou esse mesmo programa, levando a meninada pra passear no domingão, escolhendo apartamento novo e escola pras crianças numa mudança também estratégica pra SP, etc. Chorão quer ir pela mesma vereda: O CBJr está praticamente começando do zero, após o choroso demitir ¾ da banda e chamar de volta o guitarrista Thiago, escorraçado tempos atrás e malhado tal qual Judas em sábado de aleluia pelo lacrimoso na imprensa. Chorão é tão delicado quanto um elefante bêbado numa plantação de melancias : Vai visitar a mãe, que tem seqüelas de um derrame, senta à mesa com os irmãos, distribui beijos, abraços, mas, quando está finalizando bem, insiste pra que a mãe fique repetindo “Charlie Brown é do caralh*” para a câmera. Para dissipar a imagem de violento e arruaceiro, e também mostrar que anda tudo bem entre ele e Thiago, Chorão vai, com a ajuda do mesmo, comprar ingredientes para preparar um jantar romântico para a esposa. Fica o suspense se Chorão será bem sucedido ou não, mas logo vira pastelão quando ele paga R$92 reais num livro de culinária apenas para tirar uma dúvida de receita, divaga com vendedores de livros, peixes e frutas à procura do maracujá perfeito para sua amada, mostra mais ou menos como bate em seus desafetos ao tentar ligar o forno (e quase explodir o apartamento inteiro...). Até a próxima sexta a dúvida vai ser se realmente este aleijão de toda uma geração vai conseguir passar um vidrex na tela e desembaçar a imagem de enfant terrible que ele mesmo tanto faturou em cima. Eu me contentaria se um dos enigmas da minha vida fosse solucionado: O que é, afinal, “tharrollladrão”” ?!

quarta-feira, setembro 07, 2005

A Grande Caçada Continua


Medo & Delírio em Terehell City
Terehell


"Em uma nação comandada por suínos, todos os porcos sobem na vida."

Hunter S. Thompson
*1937/+2005

domingo, setembro 04, 2005

Quizshow


Encontro das águas - zona norte - The/PI
Terehell



Responda rápido, mas pense depois com calma a respeito: O que tem em comum New Orleans, Bagdá e Teresina?

quinta-feira, setembro 01, 2005

As vezes eles voltam...

Um amigo do serviço me diz que o ex-prefeito Firmino Filho tem um blog. Primeiramente achei que era alguém com anarquia, tipo aquele sujeito do “Eu Sou Regina”, mas depois o colega me mostra que realmente é o ex-prefeito, divagando sobre administração pública, analfabetismo e ,claro, política. Nunca votei em Firmino Filho, nem quando ele foi candidato nem quando se re-elegeu. Apesar da proximidade de gerações uma certa carga de empafia e pernosticismo não ganhou meu voto. Firmino era o caçula da turma do finado prefeito Wall Ferraz, o menino-prodígio. Mais do que natural que ele fosse o candidato a sucessão do mandato-tampão de Francisco Gerardo, prefeito empossado com a morte de Wall. O rapaz chegou cheio de idéias, falando em “Teresina é daqui pra frente” e começou a ganhar uma coleção de apelidos: “Prefeito Tatu”, por conta das obras do projeto SANEAR, que até hoje permanecem como cicatrizes expostas em muitas ruas da cidade; ou “Prefeito Criança”, graças a um projeto de combate a evassão escolar, que lhe rendeu um prêmio de renome nacional o qual ele muito bem soube explorar na propaganda eleitoral. Estive poucas vezes com o Firmino. Apesar dele tornar-se figura fácil em vários palanques e solenidades populares durante seus oito longos anos de governo lembro-me de estar perto dele apenas uma única vez, durante um show em comemoração ao aniversário da cidade em uma praça da zona leste. Firmino esforçava-se para subir em um skate e fazer uma simpatia, cercado de PMs armados até os dentes, como se o mesmo fosse Bush, Sharon ou alguém que o valha. A preocupação tinha seus motivos: Aquela época o ex-prefeito passava por uma crise de popularidade e andava ganhando estranhas manifestações por parte da população, como ovos e pedras. Ressabiado que algum garoto de 16 anos, a grande maioria do público naquele dia na praça, resolvesse presentea-lo, quem sabe, com um shape de skate, resolveu ir bem acompanhado. O que teria eu a dizer a Firmino? Agradecê-lo, com certeza. Agradecer por ele ter criado as zonas de estacionamento no centro, e assim ter provocado uma queda de dominó, onde quem realmente caiu foram casas seculares da região central, para dar lugar a estacionamentos prontos a oferecer vagas a quem não tivesse os famigerados talões da prefeitura. Agradecer por ele ter enterrado, junto com o entulho dos casarões, boa parte da memória de uma cidade que tem uma auto-estima muito frágil ainda. Não iria reclamar dele ter posto as unhas de fora e apunhalado seus velhos colegas de partido, cassando-lhes os cargos ou mesmo ter feito aliança com Hugo Napoleão, depois de ter ido a TV conclamar a população a receber o deposto Mão Santa e não aceitar Hugo como o novo governador. Não gosto de política, apesar de entender certas artimanhas dos dignissimos. Firmino (vá desculpando a intimidade), obrigado por ter destruido o caminho que eu fazia para ir a escola, outrora à pé. Hoje seria assaltado. Obrigado por transformar a praça onde eu jogava bola em um estacionamento a céu aberto e em rota dos pesados e barulhentos ônibus. A praça onde eu ia comprar revistas em quadrinhos com meu pai hoje é um ponto de travestis. Firmino chama isso de “progresso”. Eu prefiro não ter de pensar num nome e assim não correr o risco de tirar esse blog do ar.