Terehell

terça-feira, novembro 27, 2007

Ame-os ou Deixe-os

Vez por outra eu falo aqui em alguma coisa que hoje, pelo menos, parece engraçada dos tempos que o Brasil era uma ditadura militar. Que me vem agora à cabeça, ja falei aqui da minha mãe, que era professora de OSPB e EMC (não sabe o que é? O Google te diz...) e tinha de planejar aulas junto com um funcionário do DOPS; já falei também que tinha de formar na quadra da escola, num sol de rachar, pra ver asteamento de bandeira e cantar hino nacional; já falei do meu álbum de figurinhas da novela "Pai Herói", cuja primeira página era totalmente dedicada aos milicos e aos símbolos nacionais? E quem diria: o Golbery era dos mais difíceis de achar nos envelopes ("pai, quem é esse cara?"). Já vai longe (graças a Deus) esse tempo. Certo que hoje a gente tem os renans, os dirceus, os pallocis e as mary corns, mas nenhum deles manda tirar ninguém de casa à força, sem mandado, interroga torturando e depois se a pessoa não resiste, manda jogar no mar pra virar comida de peixe. Mas pra que lembrar dessas coisas? Porque a essa altura, virou história, e se você não aprende com ela, volta tudo. Pra quem não estava lá nem mesmo de bobo (como eu), têm filmes nacionais muito bons, sem efeitos especiais, sobre a coisa. "Zuzu Angel" conta como uma mãe de um desaparecido político peregrinou à procura do corpo do filho, morto sob tortura num quartel da aeronaútica (por algum motivo, os oficiais da aeronaútica era os escolhidos pro serviço sujo, e também pro treinamento da CIA, do sr. Bush, pai). O filme dá bem a dimensão da psicose que virava a vida das pessoas: perseguições, mentiras deslavadas, telefonemas anônimos, informações desencontradas e a mudez da mídia. "O Ano Em Que Meus Pais Sairam De Férias" já muda o ângulo pra desestruturação que rolava nos lares desfeitos quando alguém resolvia aderir à luta armada e cair na clandestinidade. Ao meu ver, essa é a pior herança dos militares no Brasil. Muito se fala em "filhotes da ditadura", mas ser "orfão" da ditadura é pior ainda (vide nossos hermanos portenhos...). Por último, "Batismo de Sangue", que conta o envolvimento/engajamento da igreja na fase mais pesada do período (68/73). Com exceção do segundo, são filmes fortes, tem cenas pesadas de tortura, mas até essas coisas precisam ser mostradas, mesmo porque ainda tem muito torturador solto por aí pegando um cineminha de vez em quando.







sexta-feira, novembro 23, 2007

Como Dois e Dois São Cinco?

Contrariando uma ressalva pessoal, fui ao centro à tarde. Nesse calor africano, sair de casa depois de meio-dia tem sido quase suicídio. Como o CD-Player do carro anda quebrado, vou ouvindo a FM da prefeitura. Ouço uma vinheta sobre uma exposição no Clube dos Diários, parecia coisa bacana, digna de um pulo por lá, já que eu ia na praça Pedro II mesmo...

Chego lá, no salão, enormes plotagens faziam homenagens à cantora e radialista Lena Rios, a 'Barradinha', como é chamada carinhosamente pelos amigos. Lena é uma amazona, uma mulher-maravilha. Na Teresina dos anos 60 e 70, bateu de frente com a sociedade hipócrita, conservadora e machista. Se mandou pro Rio de Janeiro no balaio de Torquato Neto e gravou um compacto duplo (duas faixas de cada lado) na Polygram (hoje Universal). Os labirintos e abismos físicos, espirituais e pessoais não deixaram a Barradinha ficar pela Cidade Maravilhosa, e lá se vêio ela de volta, dessa vez pra brilhar nas rádios e ser pioneira novamente, como uma das primeiras vozes femininas na imberbe transmissão FM, em meados dos anos 80. A mulher tem estória muita, toda ela devidamente contada num livro que o Kenard Kruel jura que está pra lançar, junto com uma edição em CD do tal compacto duplo. Uma homenagem justa, muito justa, justíssima. Até aí, tudo bem; isso se os outros homenageados não fossem os Beatles e os Rolling Stones...

O Rock (com R maiúsculo) do PI já não é mais nenhuma debutante. Tem estórias, fatos, e alguns candidatos a mito, eu arrisco dizer de olho fechado. Tanto se fala na tal "auto-estima", em sair do "complexo de coitadinho", e neguinho monta homenagem pra duas bandas que de tão "carne-de-vaca" dispensam homenagem? Já que a Lena estava na homenagem, nada mais lógico que puxar tudo que ela ajudou a semear.Nosso Rock tem memória, mangue-se dela ou não, e diante de "homenagens" como essa eu fico pensando que qualquer dia nós e nossos trabalhos (e aí eu puxo a brasa sim pra minha sardinha) vamos ser deletados em detrimento de bandas que têm todo um aparato de divulgação e propaganda lá na Europa ou nos EUA. Não estou sendo xenófobo, muito menos desmerecendo a importância dos tiozinhos ingleses, só me pergunto quanto ainda nós vamos abrir o caminho a facão pra no final das contas entregar a chave do galinheiro de mão beijada às raposas.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Eu, O Ausente


Bom, estou de férias. Ao menos do trabalho 'normal'. Deveria estar postando mais aqui, ahn? Pelo menos todo dia. Deveria, mas... Assim como a vida não se resume a festivais, ela também não vive em função de blogs, e eu não quero escrever aqui sobre qualquer coisa (tipo pedais de efeito, uma das obsessões da minha existência) e encher o saco de todo mundo (mais ainda).

Precisa entrar alguma coisa na cachola pra poder sair, não é vero? Então...Tenho uma pilha de livros e uns três meses de revistas atrasadas (fora CD) pra pôr em dia, portanto: here i go!


Até qualquer momento em edição especial dentro da programação normal.

sábado, novembro 17, 2007

Numa Sexta Como Essa

A Rita vivia me perguntando quem pagava minhas contas, como eu tinha dinheiro pra manter aquele apartamento, modesto mas com tudo do bom e do melhor. "E essa tua aposentadoria? Tu era empregado de quê? Nem calo na mão tu tem!". Respondia só que eu não me importava se ela fazia programa com os gringos, nem com os horários malucos de ir dormir dela. E não me importava mesmo. Gostava dela, me fazia compania, e os horários trocados dela, além de me darem sensação de liberdade, me deixavam á vontade pra limpar meus ferros, dar meus telefonemas, fazer um serviço ou outro, e garantir de deixar tudo como estava. Um dia, infelizmente, aconteceu o que eu temia. Uma colega dela da boate me liga no celular, nem meu nome sabia, disse que a Rita tinha sido espancada por dois playboys no meio de um programa. Mantive a calma. Eu não podia ir numa delegacia. Liguei pro escritório, pedi o contato do Aranha, o "limpa-merda". Todo cara que trabalha nesse ramo recorre ao Aranha pelo menos uma vez na vida, afinal, merdas acontecem. O Aranha tinha trânsito livre em delegacia, necrotério, se arrancava no meio da madrugada pra limpar local de chacina errada, desaparecia com corpo, etc. Até buscar um sanduiche de salame na chapa ali na padaria da esquina ele ia, se fosse o caso. Aranha me pediu quarenta minutos. Britânicamente me retorna a ligação. Não tinha voz de quem acordou no meio da noite. "Tenho duas notícias: uma muito ruim e uma boa". A Rita tinha chegado já nas últimas na clínica que o Aranha recorria pra fazer alguma atendimento de emergência na surdina. Essa era a pior das notícias. A boa era que o Delegado de plantão era amigo dele de futebol na praia e tinha descolado o endereço dos dois boyzinhos. Eram gente conhecida. O pai tinha posto pra fora de casa pra ver se tomava vergonha na cara mas não adiantou de nada. "Me passa aí então. Mas não dorme ainda que eu vou precisar de você mais tarde". Peguei uma sacola de ginástica, pus três ferros dentro e em vinte minutos tava na porta do apartamento do tal sujeitinho. Entrar foi mais fácil do que eu pensava. Porteiro dormindo que nem um cordeirinho. Antes de subir aproveitei pra ver se tinha câmera ou se o dorminhoco tinha controle dos portões da garagem. Nada de câmera, prédio antigo. Antigo e mal-frequentado. O cara era uma pedra, tirei o controle do bolso dele e ele nem parou de roncar. O apartamento era de fundo, oitavo andar. Um garoto verde como um zumbi saiu do apartamento e eu finji estar procurando as chaves pra abrir o apartamento vizinho. Toquei a campainha. "O Bruno me mandou aqui buscar uma parada pra ele". O boy nem titubiou, foi logo abrindo. O lugar era uma bagunça, roupa suja por todo lado, carreira de pó em cima da mesinha de centro, resto de embalagem de delivery pra todo lado, muitas caixas aparentemente vazias. "Diz praquele filho-da-puta que não tem mais fiado pra ele!". Calmamente, enquanto o sujeito pesava o pó numa balancinha de feira, eu pus a sacola no chão, abri e tirei uma 45 que nunca me errou um tiro. Era pensar "perna" e mirar, e lá ela acertava, sem erro. Uma nuvem de pó branco, parecida com talco, subiu quando o primeiro tiro derrubou o boy no chão. O sujeito segurava a perna e me olhava com aquele olhar cagão. Fiquei imaginando ele e o outro espancando a Rita e só fiquei mais puto ainda. "Calma...calma...Pode ficar com a boca, calma". Traficante eu até entendia como comerciante, mas aquele era pior que viciado, e viciado é rato. "Quero tua boca não. Quero saber cadê o outro que espancou a moça do Café Dançante agora a noite". Choramingando me pediu pra não morrer. O parceiro tinha ido entregar uma carga de pó pra algum gringo num hotel. "Tem erro não, eu espero por ele. Agora tu, pode passar no balcão e pegar tua passagem". Saquei um outro ferro da bolsa, encostei perto do peito do cagão, só pra dar o de misericórdia. Me sentei, acendi um cigarro, tornei a mexer na sacola e deixei um rifle curto mas de calibre mais pesado só aguardando a volta do outro boy. Lembrei da Rita dizendo que queria um sítio, sair daquela bagunça de cidade. Perguntava se eu sabia plantar, falava em galinha, porco e vaca. Já quase o dia amanhecendo a porta mexeu. O cara ainda fez menção de correr quando viu o amiguinho estrebuchado no chão, mas não teve nem conversa. Foi serviço ainda mais rápido. O corpo ficou jogado na parede com o impacto do balaço, fez aquele manchão de sangue quando foi escorregando pro chão. Toquei o celular pro Aranha. "Tem dois aqui pra você cuidar. Pode sumir que é sangue ruim, ninguém vai voltar pra reclamar". O sol já tava alto e era uma sexta-feira, como hoje.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Só Dói Quando Eu Rio III

sexta-feira, novembro 02, 2007

Só Dói Quando Eu Rio II