Ecos da Vitrola
O Canal Brasil (canal 66 da Sky) agora exibe um programa semanal de 30 minutos sobre clássicos da música brasileira dos anos 70. O programete em questão é uma etapa posterior do trabalho do baterista e produtor Charles de Souza Gavin, que desde o começo desse novo século aproveita suas pausas na agenda dos Titãs pra fuçar nos arquivos das gravadoras que foram engolidas pelas compras milionárias entre majors. Ainda no começo dos anos 90 os Titãs, numa sábia jogada de mercado, viraram donos do catálogo de algumas gravadoras e selos veinculados a sua contratante na época, a Warner. Rato de sebos, Gavin vislumbrou a chance de pôr novamente na prateleira artistas e obras que fizeram parte da sua formação musical, e há muito fora-de-catálogo por uma mistura assassina de desinteresse e descaso dos executivos engravatados. Após reuniões infindáveis com os mesmos, Gavin conseguiu permissão de fazer um projeto-piloto devolvendo ao mercado, em formato "2 em 1", títulos do catálogo da finada Continental. Assim Secos & Molhados, TomZé, Walter Franco, A Cor do Som, Belchior e mais 25 outros voltaram às lojas. Com o sucesso da empreeitada, a Warner deu a Gavin uma fatia mais substancial do bolo: a parte de BRock do catálogo da própria Warner, com Ira!, Inocentes, G.U.E.T.O, Ultraje A Rigor, Patife Band, entre outros; e de quebra os títulos do selo Banguela, uma aventura dos Titãs pelo universo independente (Lobão é o caralho!) entre 93 e 98 que deu vazão a nomes como mundo livre s/a, Maskavo Roots e Raimundos. Com o fim do contrato da Warner, Gavin apostou numa série chamada Som Livre Masters, dando chance à nova geração de conhecer Novos Baianos, Brazões, mais TomZé, Marcos Valle e Alceu Valença, além de trilhas da Globo (Vila Sésamo, Sítio do Picapau Amarelo) e os quartetos e trios do que ficou conhecido nos anos 60 por "Sambalanço". "O Som do Vinil", em seus dez programas iniciais, trás depoimentos dos artistas e músicos envolvidos com os LPs em questão, além de resgatar imagens da época. Alguém pode dizer "olha o 'Classic Albuns' da EMI aí!". Ledo engano... Além da qualidade dos discos ser bem superior (Gavin trabalha em cima de vários artistas de várias gravadoras, não fica preso a um cast só), o desprezo com a conservação dos masters originais das gravações impede que, como na série inglesa, se mostre como foram feitas as gravações (a parte física). Isso acaba por dar a "O Som Do Vinil" um ar heróico de resgate de uma memória já não tão recente. Ao final de cada programa, Gavin introduz o espectador ao clássico seguinte do artista, deixando no ar a esperança de uma nova temporada. Afinal de contas, um país também se faz com um punhado de vinis.
O Som do Vinil
Canal Brasil
Quintas 21:00
Reprises sábado 13:00
*Raul Seixas - "Krig-Ha Bandolo"
*Novos Baianos - "Acabou Chorare"
*Luiz Melodia - "Pérola Negra"
*Secos & Molhados - S/T
*Gal Costa - "Fa-Tal"
*Jorge Ben - "Africa Brasil"
*Milton & Lô Borges - "Clube da Esquina"
*Tropicália - "Tropicália ou Panis Et Circensis"
*Tom Zé - "Estudando o Samba"
*Tim Maia - 1970