Ame-os ou Deixe-os
Vez por outra eu falo aqui em alguma coisa que hoje, pelo menos, parece engraçada dos tempos que o Brasil era uma ditadura militar. Que me vem agora à cabeça, ja falei aqui da minha mãe, que era professora de OSPB e EMC (não sabe o que é? O Google te diz...) e tinha de planejar aulas junto com um funcionário do DOPS; já falei também que tinha de formar na quadra da escola, num sol de rachar, pra ver asteamento de bandeira e cantar hino nacional; já falei do meu álbum de figurinhas da novela "Pai Herói", cuja primeira página era totalmente dedicada aos milicos e aos símbolos nacionais? E quem diria: o Golbery era dos mais difíceis de achar nos envelopes ("pai, quem é esse cara?"). Já vai longe (graças a Deus) esse tempo. Certo que hoje a gente tem os renans, os dirceus, os pallocis e as mary corns, mas nenhum deles manda tirar ninguém de casa à força, sem mandado, interroga torturando e depois se a pessoa não resiste, manda jogar no mar pra virar comida de peixe. Mas pra que lembrar dessas coisas? Porque a essa altura, virou história, e se você não aprende com ela, volta tudo. Pra quem não estava lá nem mesmo de bobo (como eu), têm filmes nacionais muito bons, sem efeitos especiais, sobre a coisa. "Zuzu Angel" conta como uma mãe de um desaparecido político peregrinou à procura do corpo do filho, morto sob tortura num quartel da aeronaútica (por algum motivo, os oficiais da aeronaútica era os escolhidos pro serviço sujo, e também pro treinamento da CIA, do sr. Bush, pai). O filme dá bem a dimensão da psicose que virava a vida das pessoas: perseguições, mentiras deslavadas, telefonemas anônimos, informações desencontradas e a mudez da mídia. "O Ano Em Que Meus Pais Sairam De Férias" já muda o ângulo pra desestruturação que rolava nos lares desfeitos quando alguém resolvia aderir à luta armada e cair na clandestinidade. Ao meu ver, essa é a pior herança dos militares no Brasil. Muito se fala em "filhotes da ditadura", mas ser "orfão" da ditadura é pior ainda (vide nossos hermanos portenhos...). Por último, "Batismo de Sangue", que conta o envolvimento/engajamento da igreja na fase mais pesada do período (68/73). Com exceção do segundo, são filmes fortes, tem cenas pesadas de tortura, mas até essas coisas precisam ser mostradas, mesmo porque ainda tem muito torturador solto por aí pegando um cineminha de vez em quando.