Me pergunte qualquer coisa, menos onde fica a Vila dos Galpões, na verdade uma fábrica de plástico desativada em algum ponto da margem direita do poluidíssimo rio Pinheiros. Nem os próprios paulistanos sabem ao certo que bairro é aquele. Coisas da paulicéia...Fato é que o lugar é enorme, suficiente pra abrigar um palco ao ar livre, um galpão "eletrônico" e um outro "indie".
There we go, boys...Nada contra nem a favor de Vanguart e Mallu Magalhães, embora prefira os sulmatogrossenses. A Mallu espero que entre numa fase elétrica e/ou psicodélica logo depois dessa fase folk-celular pela qual ela está passando. Eu vim mesmo ver Jesus & Mary Chain. Mesmo que às sete horas da noite, no horário da minha terra.
Um belo dia de sábado em 1989 eu sai de casa com o dinheiro de uma semana inteira de lanche pra comprar um vinil de "Automatic". Dezenove anos depois, num mesmo sábado, uma menina que devia estar mamando no peito da mãe quando eu saí da loja do Cabeludo com uma cópia do meu primeiro disco dos irmãos Reid chora copiosamente ao meu lado durante a execução de "Some Candy Talking" (
single de 1986!). Há esperança pro mundo: Se ela tem os discos ou só as MP3, quem liga? Cultura é algo que se passa adiante, e assim vejo que nem tudo termina na Mallu, apesar dela e do Offspring terem tido mais mídia que o TJ&MC nas chamadas deste bendito festival.
Não há expectativas sobre um show dos irmãos Reid fora o
setlist. Eles fazem o estilo "nem te ligo" todo tempo, não agradecem naquele português de quem está com a boca cheia de bolacha maria (como fazem os artistas estrangeiros quando querem ser forçadamente simpáticos) e não apresentam músicas e outros integrantes da banda. Não há solos individuais e o clima os permite errar e voltar como se estivessem tocando no
pub da esquina de casa, como acontece na introdução da terceira música, "Far Gone & Out" (Honey's Dead, 92). Jim Reid espia por alguns segundos, incrédulo, a platéia de umas 10 mil pessoas (cálculos meus) enquanto seu irmão William, alguns quilos mais gordo, passa batido no seu lado do palco e parece se preocupar mais em dialogar sua guitarra com a bateria. Nada de muros de
feedback, tudo muito preciso, audível e bem equalizado. Uma hora desfilando repertório por
singles de todos os álbuns. Pra lavar a alma de qualquer fãs, fosse ortodoxo ou cristão novo.
Vaguei feito fantasma pela Vila dos Galpões, por vezes no turbilhão de gente. Passei batido no Offspring e também no Bloc Party. Ainda vi um pedacinho do show do Spoon, bem interessante, mas me guardei pra ver qual seria a do Breeders, já que entraram de última hora, junto com Offspring. Nem sabia que Kim Deal tinha voltado com a banda, e imaginava que sua irmã gêmea Kelly ainda estivesse em cana por uso e posse de heroína, mas eu estava enganado, docemente enganado.
Mesmo com um problema num monitor de chão e um atraso significativo, as Breeders soltaram os cachorros num
set de pura covardia. Quantas bandas você conhece que tem uma música como "Divine Hammer" pra sacar da manga logo nos primeiros dez minutos de show? Fora a simpatia das irmãs Deal, acrescidas de uma guitarrista de longos
dreadlocks ruivos cujo nome não me recordo ("Ela é de Miami, Flórida!" , sacaneava Kim ao microfone). E tome lenha! Estivessem no palco lá fora, teriam roubado a noite, sem dúvidas. Kim olhava pro resto da banda e sorria, como quem alega "eu não falei que ainda dava certo?". Depois eu nem quis ver Kaiser Chiefs, nem que eles fossem os Brahma Chiefs (sacaram? Dãh!). Eu ainda tinha outra banda da minha vida pra ver dali dois dias.