Um começo de noite, lá pelo meio dos anos 60, o funileiro Joe Jackson chegou em casa após mais um dia exaustivo na fábrica, mas ainda com disposição para o ensaio da banda formada por quatro de seus nove filhos. Michael, seu caçula entre os homens, com menos de dez anos de idade, insistia em não sair do meio do ensaio, imitando passos que aprendera vendo James Brown na TV. Joe deu-lhe uma surra, mas Michael teimou em ficar entre os irmãos.
Cerca de quinze anos depois, Michael deixou os irmãos de lado e tranformou-se no mais bem pago astro da música pop; o primeiro artista negro a transitar pelas cifras de milhões de dólares. Em parceria com outro egresso do império Motown, o produtor Quincy Jones, cravou discos emblemáticos dos anos 80, como "Off The Wall" e o multi-tudo "Thriller". Pioneiro na seara dos videoclipes, marcou seu território com produções que beiravam à curta-metragem, usando e abusando da imagem para se firmar como produto.
Os anos dedicados à carreira e ao sucesso começaram a cobrar seu preço dentro da vida pessoal de MJ. Atormentado pelo peso de sua imagem como artista e por misteriosos problemas de saúde, tornou-se um recluso extravagante, num mundo infantil e exclusivista, onde sua predileção pela companhia de crianças acabou por levá-lo aos tribunais em um processo por pedofilia.
Assim, semi-fálido e prestes a iniciar sua primeira turnê em anos, o coração de Michael Joseph Jackson, o homem que levou a música negra dos guetos para o topo das paradas, parou de bater em plena Neverland, seu rancho/parque de diversões/mundo particular, onde ele um dia sonhou apenas resgatar a criança que invadia o ensaio dos irmãos.