Terehell

segunda-feira, abril 30, 2007

Hurtmold - "Telê"

Melhor banda nacional já há algum tempinho.


sábado, abril 28, 2007

Respeitável Público

Podia ter, se muito, uns 18 anos. Vestida estratégicamente pra enganar na idade. Entrou na padaria aquele dia e botou logo o olho em mim. Ou já estava me vigiando antes. Logo eu que vim pra, entre outras coisas, também vigiar. Se chegou e perguntou se podia sentar. Camiseta cavada sem sutiã, lábios finos, um cheiro bom de quem toma banho com sabonete feito em casa. Provavelmente banha em algum dos muitos igarapés ao longo desse rio enorme lá fora. "Você não é daqui, não é?" Respondo que não, sou todo sorrisos, não quero estragar meu disfarce, afinal, pra todos os efeitos, estou aqui tomando um simples café na padaria enquanto leio o jornal local. "Não, não sou...Você estranhou o sotaque?". Me diz que desconfiou pelo corte de cabelo, passando a mão por trás da minha orelha e prendendo uma mecha atrás dela. Pode não ter 18 anos, mas sabe (ou aprendeu ou já notou) que homens perdem a cabeça com mimos facéis como esse. Não desato o sorriso pra continuar de rabo-de-olho vigiando a porta de rolar do outro lado da rua. São quase 11 da manhã e ninguém chegou pra abrir, muito menos ele. Estive bem perto noite passada, num puteiro flutuante, mas muita gente, não ia ser um serviço legal. O puto deve estar de ressaca. "Fiquei com vontade de tomar um sorvete com você". O sorvete, naquele calor amazônico, virou chopp com refrigerante e pastel, depois outro café no bar do hotel, mais tarde uma caça ao vinho no jantar, e por fim um belo desjejum no quarto. Não perguntei nem idade, nem endereço, nem de família, e ela, num contraponto às loucuras que me disse no ouvido no decorrer da noite, só me perguntou se o Rio de janeiro era mesmo bonito. "Deve ser, dizem...". Lá pela 1 da tarde saiu debaixo dos lençóis e me disse que precisava dar notícias em casa. Achei bom e concordei. Não queria essa altura o juizado de menores atrás de mim, também. Enquanto ela banhava fui até a janela e espiei lá fora. A porta estava aberta, finalmente. Eu podia acabar a estória. Do chuveiro ela me pergunta: "Tem um circo na cidade, você viu?". Lembro de um panfleto em algum lugar da noite passada e me vem ao longe uma música saída de um carro de propaganda. As pessoas começam a encher a calçada lá embaixo. Penso rápido, pode ser a chance. Combino que vou sair pra consertar meu relógio em algum lugar por perto e marcamos no final da tarde. Peço que deixe a chave na portaria. Ela diz que sim e que me adora. A calçada está muito mais cheia agora. Caminho até a esquina e atravesso no sinal, voltado pela calçada oposta. A música vai ficando cada vez mais alta. Avanço pela escada de dois em dois degraus. Um cliente está acabando de ser atendido e espero na porta pra ver se mais alguém aparece. O rapaz vai embora, mostro o relógio, ele examina e me diz que o relógio não tem nada demais. O barulho da passagem da comitiva do circo é tão alto que começa a entrar pela escada. Espero a marcação do bumbo da banda pra disparar o primeiro tiro. O rosto se encrespa, fica branco, não tem ação nenhum a não ser olhar pra mancha de sangue escuro que vem brotando do jaleco. Aguardo o contratempo e na próxima batida disparo de novo. Feito. Desço calmamente a escada. Todos de costas pra mim aplaudem a passagem do circo. Elefantes, dançarinas, um casal que cospe fogo. Fico lá em pé na calçada até a multidão se desfazer. Volto pro quarto. O garoto da recepção me diz que ela deixou a chave e que são normas da casa cobrar a hospedagem da acompanhante. "Sem problemas, pode incluir. Quando ela voltar não precisa avisar, manda subir direto, ok?" Me deito por umas duas horas e acordo com a rua cheia novamente. Desço até a padaria. Pergunto a moça o porquê de tanta confusão. "Mataram um senhor que era ali da joalheria em frente. Um senhor simpático, alemão, tinha essa loja aí há muitos anos. Meu Jesus, quem ia querer matar um homem desse que não faz mal à ninguém? Eita, mundo...". "Pois é, pois é...". 5 da tarde ela me volta toda sorridente, diz que passou pelo circo enquanto ia em casa. Conta afobada dos elefantes, de como eram grandes. Me faz prometer levá-la ao circo. "Sabe, hoje enquanto você estava fora eu cochilei e sonhei com o Rio de Janeiro. Sabe que eu também tenho vontade de saber se é bonito mesmo, assim como falam tanto?"

domingo, abril 22, 2007

O Burro, o Rei e Eu


O burro o rei e eu
Estaremos mortos amanhã
O burro de fome
O rei de tédio
E eu de amor

sábado, abril 21, 2007

Desencanta, Sabadão!

Sons pra animar (ou acabar de afundar) seu sabadão à noite:

* "Circo" - Ronei Jorge & os Ladrões de Bicicleta: Rock com cacoetes de samba, mas nada a ver com Los Hermanos. A letra é meio beat, sobre fugir com o circo, Fellini total.

* "Sorria" - Canastra : Um dos inúmeros filhotes do Acabou La Tequila. Clash com Stray Cats e um acento loser de fazer inveja a Rivers Cuomo.

* "Year Zero" (o disco) : Nine Inch Nails - Porque não existe limites pra loucura humana em forma de música.

* "Lovesong" - The Cure : Passei anos tocando essa linha de baixo pra passar som em show. Se for do DVD ao vivo em Berlin, melhor ainda.

* Firebug - Ska de sonoridade vintage, com colaboração de Victor Rice, trompetista americano que vem fazendo trabalhos com Hurtmold e o coletivo Instituto. Os dois discos em catálogo da banda são bons de cabo à rabo, e ainda têm faixas-bonus em Dub.

sexta-feira, abril 20, 2007

Tias Fofinhas

Rádio C.A.B.E.Ç.A amanheceu hoje pegando ondas de flashback

quinta-feira, abril 19, 2007

Looking On The Barrel Of A Gun

E aconteceu de novo. Os americanos, o povo mais paranóico e medroso do planeta, assistiu novamente uma escola (dessa vez uma universidade) ser vítima de algum maluco armado atirando à esmo. Já aconteceu antes, mais de uma vez, aliás vem acontecendo desde os anos 60, mas os americanos fingem que não é nada demais, novamente por medo de criarem um trauma e piorarem o índice de paranóia interna. A raiz do problema continua lá: é muito fácil (e garantido em direito pela constituição) ter uma arma de fogo. O jovem atirador-estudante coreano comprou, sem nenhuma dificuldade, uma metralhadora Glok, igual a que os soldados do tráfico usam aqui, só que adquiridas no mercado negro. Lá ele comprou uma como quem compra isca pra ir pescar, o vendedor inclusive disse nem ter desconfiado dele, pois "aparentava" ser uma pessoa normal, do contrário não teria vendido o armamento. Eu pergunto: quem quer comprar uma Glok pra pendurar na sala de casa, de enfeite?! Que raio de lugar é esse que vende mini-metralhadoras como quem vende vassouras?? Queria muito ver a cara das pessoas que votaram no não-desarmamento agora...

segunda-feira, abril 09, 2007

As 19 Colheres

Eram dezenove colheres de prata, enroladas numa página de coluna social. "Uma deixei com beltrano, ele é bom comprador, se disser que gosta, fica mesmo". Coroa portuguesa, lá está o P dentro do brasão, não se acaba nunca. As famílias antigamente tinham essas colheres e copos feitos de prata boa com medo de serem envenenadas. Hoje ninguém tem mais medo de envenenamento. Pavor hoje é do aluguel, da água, da luz, da escola das crianças, da prestação do carro, do desemprego, do sequestro-relâmpago, da clonagem de cartão de crédito, da lei-do-cão; quem quer matar, mata, não esconde a cara ou manda endereçada. "É tudo coisa boa, sicrano sempre compra de mim". Se estivesse mesmo disposto a comprar, pensaria mais duas vezes. Racha de roubo, aqui ou em outro estado, algum arremate duvidoso em alguma biboca de penhores. Somos uma Rússia czarista, cheia de agiotas, punguistas, lambe-botas e pequenos golpistas de praça.Todo mundo é um pouco Raskolnikov, não convém duvidar disso. "Limpar com banho de prata?! Vá tomar no c*! P#$%* de banho de prata, rapaz!". Não tenho onde usar nem guardar isso, só se fosse pra derreter e fazer copos, mais úteis, mas você acha fácil quem compre. Dezenove colheres de sopa feitas de pura prata portuguesa. Portuguesa mesmo? Qual nada...De alguma colônia. Pura prata em forma de dezenove colheres de sopa de prata portuguesa, enfileiradas no fundo do bolso da calça imunda e enroladas numa página de coluna social.

sábado, abril 07, 2007

Dividir & Conquistar

Pessoas de outros estados no orkut me perguntando sobre divisão do Piauí, estado do Gurguéia, etc. Essa conversa é do tempo da manivela. O sul do PI, pra quem sabe explorar, é uma nova Canaã. Sob os pés dos peões, laconizados desde as priscas eras da "Luzia", a mulher mais antiga do continente americano, repousa ouro líquido: Água. Em cidades como Cristino Castro, poços jorram água à metros de altura há quase trinta anos, sem parar, enquanto pouco mais adiante famílias não tem o que comer ou beber ou dar ao gado. Existe, lógico, o interesse financeiro da nossa bancada federal. Rachar o estado e criar um novo significa verba pra implantação de todo um governo, secretariado, segundo-escalão, funcionários, e uma nova capital, pré-planejada, por que não? Novos velhos currais eleitorais, redivivos e mais fortes. Novas estruturas são senzalas pós-modernas.

Mas como nem todo mundo olha pro próprio umbigo durante as sessões do congresso, há também projeto de lei para a derrubada do imposto sobre instrumentos importados. Nem precisa dizer que eu adorei isso. A exemplo dos livros, que já chegam aqui isentos, aquelas maravilhosas peças musicais, que adquiriam preços astronômicos com um tal de 30% da Receita, podem chegar ainda mais belas e desempedidas no conforto do seu lar. Já vejo meus sonhos de consumo se materializando.

Quem disse que Brasília não trabalha?

segunda-feira, abril 02, 2007

Como Ir Ao Cinema Sem Ter Que Matar A Família


Na última sexta, por ocasião da estréia do blockbuster "Os 300 de Sparta", um jornal local, consignado com o exibidor, pôs cupons de desconto das sessões do dia encartados na edição desse dia. O jornal circulou com 6.000 exemplares, que se esgotaram às 9:30 da manhã. As salas de exibição do Teresina Shopping têm lotação máxima de 1.500 lugares, um quarto dos cupons distribuídos. Sintomático. Cinema é uma diversão muito boa e anda cara. Entrada doze reais, lanche mais uns sete. Se você anda de transporte público, ponha aí mais quatro reais em cima. Com esses vinte e três reais você pega uma sacola pesada de DVDs na locadora da esquina. Os cinemas de rua se acabaram, a migração para as salas refrigeradas, confortáveis e possivelmente seguras dos shoppings encareceram os bilhetes, e nem mesmo o DVD, que conseguiu matar o VHS, não acabou com o hábito de ir ao cinema. Acontece hoje com a telona o mesmo que acontece ao formato CD, a ameaça da pirataria, alimentada pelos preços caros dos ingressos. Quem procurou pelos "300" nas barracas de camelôs na mesma semana de estréia possivelmente levou uma cópia genérica pra ver no recesso do lar. Eu continuo achando um barato ver filmes antigos relançados em DVD, não suporto 90% do que se faz na indústria cinematográfica americana (apesar dos EUA terem excelentes filmes independentes, divertidos e de conteúdo). Adorei a ressureição do cinema nacional, mas ainda falta de um Mazzaropi, de um Mojica, dos Trapalhões, de ícones que realmente valorizem as produções nacionais frente aos enlatados gringos. Mas sou solidário a quem quer desopilar da vida olhando praquela tela gigante, sem que isso signifique, necessariamente, voltar pra casa liso.

domingo, abril 01, 2007

O 1%

Uns posts atrás eu divaguei sobre os anos 80, da valorização do visual sobre o conteúdo, yada-yada-yada...Bom, não foi de todo assim. Embora Duran Duran, Culture Club e outras coisas carregassem no visual, também tinham bandas bagaceiras. Os ingleses do New Model Army foram a banda mais "grebo" dos 80's. Algumas pessoas vão fazer a ponte com a regravação de "The Hunt", feita pelo Sepultura alguns anos depois. Infelizmente foram vendidos pela gravadora no Brasil como "banda de surf music" (?!) e só conseguiram ser cults mesmo.



Procurem também pelo YouTube a versão deles pra "Gimme Shelter", dos Stones, com a participação impagável do cantor-galã Tom Jones.