quarta-feira, dezembro 31, 2008
Travadinho na TV
Engana-se quem pensa que só TV aberta passa coisa bizarra:
Domingão à noite, me aparece o ex (vão voltar em 2009) baixista do Blur, Alex James, já sem aquela carinha de darling do britpop, meio gordinho e afetado, fazendo um documentário na Colômbia sobre...tráfico de cocaína.
Macaco-velho no assunto, depois de cafungar bastante durante vários anos, sir Alex James entendeu que o mal das drogas é a falta de informação (muito bem...) e resolveu fazer esse filmículo pra mostrar aos europeus o que é realmente a Colômbia, quem foi Pablo Escobar e o que ele ainda significa para seus patrícios, a violência causada pelo tráfico na vida dos colombianos e de quebra ainda entrevista familiares do patrón, também 'mulas' que cumprem pena nas cadeias colombianas, justiceiros (numa cena cômica, James marca um encontro com um matador de aluguel 'disfarçado' de taxista. Lá pelas tantas ele se finge de espantado: "Oh, ele está armado...Ele agora nos mostra sua pistola...") e o presidente Álvaro Uribe.
Descontadas as teatralizações e maneirismos, uma visão, superficial que seja, do submundo nas metrópoles da América do Sul.
Arrisque pegar uma reprise pela semana.
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Serviço Natalino
23.12 - 15:03: O Baiano me liga. Acordo pra atender numa ressaca fenomenal. "Tem um T2 pra você. Pega a sessão da 9 naquele cinema de sempre que seu contato chega junto sem falta. É serviço pro Grego. A ficha já caiu inclusive". O Grego pagava bem, adiantado, mas gostava de serviço bem feito, limpo, sem rastro. Contratava T2, dois de uma vez, pagava dobrado, só por garantia. Só quando passei pelas bancas me manquei que era ante-véspera de Natal. Ligava pra Curitiba ou não? Será que minha filha ia deixar aquele babaca do meu genro falando de futebol só pra me enrolar no telefone? Quase um ano isso... "Os Sete Samurais", gosto desse, desde molequinho. Dei aquele tempo na porta do cinema, pro contato me ver. Faltando cinco minutos, entrei. Com dez minutos de filme, ela senta ao meu lado. "Tinha uma coisa mais nova pra ver não? Isso é do tempo do meu avô, catso...". Tinha um perfume bom, almiscarado, me confundiu tanto que até me fez pedir a contra-senha. "Quer pipoca?". Ela nem pestanejou: "Odeio salgada. Prefiro da doce". O escritório me faz dessas de vez em quando, mas não duvido ser capricho do Grego. Saimos do cinema abraçados como se fossemos namorados e fomos baixinho nos interando da missão. "O Grego quer um ex-empregado, ficou com um seguro-desemprego maior do que devia, entende?" Ela falava e eu olhava os pisca-piscas de Natal. Lembrava da minha filha quando ela era pequena, eu um gerente de loja de móveis. Minha mulher passava depois do expediente com ela e nós iamos ver as luzes na rua. "Tá me ouvindo, belo?". "Tava destraído, desculpa...". Tinhamos de montar campana em um dos bingos que o sujeito abrira na periferia. No dia seguinte seria fechado pro Natal, o serviço era praquela noite. Sem falta.
24.12 - 01:30: Encostamos numa padaria. A campana tinha de pegar o sujeitinho fazendo a sangria do tal bingo; até melhor, pareceria assalto, ia deixar a dura dando voltas e voltas em torno do próprio rabo. Fazia um frio incomum mesmo pra madrugada naquela época do ano. Não demorou muito um monza vinho encosta, liga o pisca-alerta e um homem de uns quarenta anos, bigode farto escondendo uma cicatriz que nascia no canto do nariz e ia até o lábio superior, desce olhando pros lados antes de cumprimentar um moreno que vem de dentro abrir uma portinha estreita. É o tal que o Grego quer. "Nós entramos separados. Em quarenta ou cinquenta minutos acho que dá tempo de me insinuar pra ele. Vou dar uma de apressada e pedir pra ele me levar pro escritório. Você fica de olho no lance pra não perder sua hora de entrar lá e me tirar!". Minha filha tem um casal de gêmeos, dois anos de idade mais ou menos. Meu genro me manda foto, nunca vi as crianças pessoalmente. Quando elas nasceram minha filha já era distante de mim. Fui à Curitiba uma vez, tentei sentar e conversar com ela, explicar, pedir perdão, dizer que já havia pago pelos meus erros, que fui tão vítima do meu ciúme doentio quanto ela e a mãe. Ela apenas olhou nos meus olhos e me disse que sentia que ela própria é que havia pago o preço sozinha.
24.12 - 02:16: Estou na segunda dose de uísque. Minha contato pescou o peixe direitinho. Faro é faro: ela sentiu de longe que esse bingo não é para velhinhas inocentes jogando o do INSS. Isso aqui é um puteirinho, mais ou menos cheio de velhotes bêbados atrás de menininhas. O sujeito é meio arredio, quer arrasta-la prum motel, mas ela finge passar mal (é uma atriz) e os dois somem atrás da cortina do palco de karaokê. É minha deixa. O uísque desce rasgando na garganta. Fecho os olhos, vejo minha filha, ainda pequena, se dividir em dois: meus netos gêmeos. Ao abrir os olhos não me vêm dor-de-cabeça, nem tontura, só uma tranqulidade e o calor da bebida na boca do estômago. "Vamos lá, chefão, vamos botar essa pôrra pra trabalhar". O bom de ter uma automática é que você pode conversar com ela. Deslizo pra trás da cortina, tudo meio escuro. Me guio pelas risadas do contato e do sujeito. As paredes parecem ser de veludo vermelho, quase encandescente. Paro na porta do escritório e surpreendo nosso alvo mostrando pro meu contato um Papai Noel em miniatura que abre a capa vermelha e exibe o pau. Patético. Só por isso já merecia levar um teco.
24:12 - 03:07: Saimos voados pela portinha de onde o sujeito viera da rua uma hora antes. Por sorte um dos tiros pegou no segurança e o próprio peso do corpo dele escancarou a saída pra nós. Atravessamos a rua de subúrbio debaixo de chumbo e com uma sinfonia de cães da vizinhança abafando sirenes de polícia. Ou do pronto-socorro, nem olhamos pra trás pra ver. Pra despistar, levamos o caixa do bingo e tão logo voltamos pro centro saímos distribuindo todo ele pros mendigos da rua.
24:12 - 05:49: Deixo meu contato na boca do metrô e ligo pro Baiano. "O Grego já soube do serviço. Bem pensado isso de fugir com o apurado pra deixar os meganhas confusos, hein? Feliz natal pra ti!". Não tenho pra onde ir a não ser voltar pra casa, eu podia pegar um ônibus pra Curitiba, chegava pra ceia, mas não sei como seria recebido. Melhor ir com calma. Enfio o cartão novamente no orelhão e disco. Assim que atendem do outro lado chamo logo pelo nome do meu genro, mas outra voz me responde com outra pergunta. "Pai?! Assim tão cedo?"
domingo, dezembro 21, 2008
sábado, dezembro 20, 2008
Fechando a Conta
Duas coisas supimpas - ao menos pra mim, de 2008:
Z1mbi do Mato: Uma das melhores bandas nacionais desde sempre. Löis Lancaster é o fruto de uma noitada entre Arrigo Barnabé, John Zorn e Humberto Gessinger. Quem conhece clássicos como "Adorei a mesinha" sabe do que eu falo. O Z1mbi, agora com meu chapinha Renzo Braz, ex-DFC, na bateria, me saiu esse ano com um disco "ao vivo" gravado em Niterói e chamado "Toma, Figurão!". Coisas de Z1mbi... Baixe o seu no site deles.
Mayra Andrade: Apesar do nome, ela não é próxima promessa da MPB cool, inteligente e elitista, pra ser degustada em momentos intimistas em barzinhos onde as pessoas reclamam que não podem conversar por causa da música alta. Mayra vem de Cabo Verde, e canta, lindamente por sinal, em crioulo, um dialeto local que mistura português de Portugal e idiomas da costa da África, cheio de contrações e aglutinações, e onde o "V" tem som de "B", por exemplo. Mas isso não impede que canções como "Tunuka" (que ela canta nesse vídeo com a brasileira Mariana Aydar) grudem no seu som:
sexta-feira, dezembro 19, 2008
One More Melhores do Ano
Quaquilhões de posts atrás eu comentei a saída do Ig(g)or do Sepultura, uma possível re-aproximação com o irmão , etc.
Taí no que deu. Melhor até estragava!
quinta-feira, dezembro 18, 2008
Apagando As Luzes
Melhores do ano? Em duas semanas? Ainda rola?
"Timbaland knows the way to reach the top of the charts
Maybe if i work with him i can perfect the art"
terça-feira, dezembro 16, 2008
O Inferno São Os Outros
"I'm a fleabit peanut monkey
All my friends are junkies"
(Monkey Man, Jagger & Richards, "Let It Bleed", 1969)
Sua banda está no topo das paradas, a polícia dorme na sua porta, você faz turnês sold-out de costa à costa pela América, mas deve em impostos no seu país de origem aquilo que não possui. Esses eram os Rolling Stones no longínqüo ano de 1971.
Pra resolver a situação foi armada uma verdadeira operação de guerra pra retirar os Stones do Reino Unido e levá-los para o paradisíaco sul da França, onde deveriam gravar um disco, que deveria render uma turnê, que deveria tirá-los do vermelho.
Ao invés disso os Stones, ou melhor, Keith Richards e família, arrumam um verão do barulho numa mansão às margens do Mediterrâneo, frequentada por uma entourage formada por amigos junkies , músicos igualmente junkies, mulas, aviões, groupies, traficantes, gatunos, "pessoal dos Stones" e, invariavelmente, a polícia francesa.
Desse caos, que se desenrolaria ainda por EUA e Suíça, resultariam um casamento (de Mick e Bianca), duas crianças (Jade Jagger e Angela Richards), processos e mais uma ida à clínica de desentoxicação (por Keith e Anita, mesmo grávida) e um àlbum duplo, "Exile on Main St.", que para muitos é o último e maior legado daquela que um dia se auto-intitulou "a maior banda de rock do mundo".
"Uma Temporada no Inferno Com Os Rolling Stones" não é assim uma radiografia, um estudo apurado da feitura de um registro atemporal, blá-blá-blá... Mas só pelas estórias fabulosas e exageradas (ou não) do ex-Rolling Stone Magazine Robert Greenfield, já vale a leitura. Bola fora mesmo só pra ausência das fotos da edição gringa, mas nada que uma garimpada no Google não mate a sua curiosidade.
sábado, dezembro 13, 2008
Afinal, é Natal..
Divirtam-se com essas duas bandas maravilhosas, que eu adoro e recomendo demais, e seus discos de capinhas quase iguais:
The Kinks - Kontroversy (1965)
Sleater-Kinney - Dig Me Out (1997)
sexta-feira, dezembro 12, 2008
Fear of a Female Planet
A semana é das mulheres. Pelo menos delas duas: Madonna e Capitu.
Madame Ciccone, recém-separada, pôs a filharada no avião e embarcou pra "perna" sul-americana da sua turnê de nome ambiguo em inglês. Como produto pop, nunca me interessou. As mudanças "mirabolantes" de visual me lembravam demais o Bowie e daí sempre torci o nariz. Mas Mme. Ciccone é boa de charme, logo, boa de marketing. Soube se valer dele todos esses anos, e agora tá aí, cinquentona, de cartola e guitarra, à lá Marc Bolan, com bastante corretivo junto com o glitter, é verdade...Show de estréia cancelado na Argentina por atraso de equipamento, encontro com a guerrilheira Ingrid Bittencourt, protestos da igreja conservadora no Chile, 800 kilos de gêlo pra passar nas pernas...Tudo isso faz parte do circo da material girl, a fabriqueta de fatos que move o mito. Indaguei a um amigo jornalista (sim, isso existe!)que joga na coluna do meio se ele ia ver a Madonna. "Vou não! Gosto mais dela não!". Daí eu chego noutro ponto: Cuspiu no prato ou cuspiu pra cima, madame?!
Outra que eternamente deu rebanadas e por isso mesmo foi alçada ao status de "mistério" (ou como o autor a definia, "oblíqua") voltou essa semana rapidinho. Capitolina (assim, com "O" mesmo) era nada mais que o protótipo da futura mulher emancipada do neo-nascido século XX, que ainda engatinhava procurando a saída da sociedade patriarcal. Capitolina ainda iria marchar pelos direitos trabalhistas, pelo voto, queimaria sutiãs, bateria o pé pela pílula, discutiria o aborto e iria ao Pasquim falar palavrão. Capitu é a mulher jogando com a arma que ela tem por natureza: seu charme. Mesmo sem ser Machado, sempre digo: Se eu fosse mulher, mandava no mundo! Mas aí é outro post...
A minisérie da Globo é bacana (Você não assiste minisérie da Globo? Meus pêsames...), carrega um tanto na overdose de informação cinematográfica: edição frenética de "Réquiem Para um Sonho", trilha puxada à "Maria Antonieta" (já rolou de Beirut a Sex Pistols, passando por "Iron Man" versão saloon, a cargo do maestro Tim Rescala, aquele que trabalhou anos nos humorísticos do Chico Anysio) e um não-cenário tipo Lars Von Trier. Fora isso, têm as tiradas machadianas, bem melhores que as de Shakespeare, diga-se.
E cá pra nós: o mistério de Ezequiel ("as mulheres não entendem as ruínas") é uma pulga bem maior atrás da orelha...