Fortune Cookie Big Hits Vol.13
"Bem-Aventurados os que têm fome de justiça, porque a vingança é um prato que se come frio"
"Bem-Aventurados os que têm fome de justiça, porque a vingança é um prato que se come frio"
Eu nasci sob o signo de Virgem com ascendente em Virgem. Isso significa, basicamente, que Virgem como ascendente potencializa Virgem como signo, entenderam? Sou metódico, racional, chatinho e manipulador ao extremo (a quem veja nisso um defeito, mas se eu cheguei até a hora de estar escrevendo isso é uma prova que a convivência saudável é possível). Isso não é culpa minha, nem de uma conjunção/conspiração dos astros. As evidências pra uma cesariana que me trouxesse ao mundo num alinhamento sinistro desses apontam pros meus pais: uma virginiana, que não acredita em horóscopo porque a Rede Vida proíbe, e um sagitariano, mandão ao extremo. Vou poupar vocês sobre casas, luas, sóis e etc. Apenas quero atentar para o fato que essa foi a primeira cagada da minha vida, e que, se notada a tempo, explicaria muita coisa.
Mais Patton, agora matando a saudade do Faith No More. Essa música é uma das minhas preferidas deles...
Raramente eu ia a festas. Essa realmente era por uma boa causa. Geralmente sei o que vou achar nas festas, nada me surpreende tanto assim, não é como as festinhas de quando você é adolescente. Pra dizer a verdade, é totalmente ao contrário. Cheguei uns trinta minutos depois do horário combinado. Apanhei um terno comum, o do trabalho mesmo, tanto pra parecer que sai direto de lá para a festa (e assim justificar meus trinta minutos de elegante atraso) quanto para ser o mais discreto possível. Mal pus a mão na minha primeira dose da noite e me encosta um deputado que foi minha fonte numa matéria recente. Pelo bafo percebi que ele não passou a tarde na sessão. Ele me puxa forte pela gravata: “Seu filho-da-puta, você quase liquida minha carreira”. O velho babava pelo canto da boca e me cuspia enquanto enrolava a língua pra me xingar. “Vou acabar com você, fedelho! Você me paga por essa, seu...” Uma mulher loira soltou a mão do velhote da minha gravata, visivelmente constrangida, e o puxou para longe. Fiquei quieto, como se faz quando um cachorro bravo vem em sua direção. Se você fica quieto, o cão não se sente ameaçado, cheira, late, bufa, mas não morde. Aprendi isso na rua quando era criança. Encontro alguns colegas de faculdade. “Pôxa, você está bem,hein?” “Olha, li aquela sua matéria sobre as cervejarias e a isenção de imposto, muito boa!”. “E aí, rapaz, quem é vivo sempre aparece, né?” “Vamos marcar aquele futebol, me liga...”. Meus amigos de faculdade, e hoje colegas de trabalho são sempre legais assim. Há quem reclame das punhaladas profissionais, mas não tenho de quem me queixar, nunca tentei pisar no calo de ninguém. Uma socialite queria tirar foto comigo. “Sou amiga da Elizinha, Elizinha Cavalcante. Ela trabalha lá com você” Soltei um sorriso envergonhado. Elizinha pesa 150 kilos, vai a quatro festas, em média, por semana e cobra uma nota preta por foto em sua coluna. Tem fama de desbocada quando bebe, e trata mal 90% da redação. Eu sou os 10%, e algumas pessoas fazem piadinhas por causa disso, mas faço que não entendo, e a coisa fica por isso mesmo. Almeida, meu primeiro chefe-de-redação, me chama num canto, quer falar sobre o deputado bêbado.”o homem está fulo da vida. Rapaz, como você foi expor ele desse jeito?” Somos amigos, eu e o Almeida, foi meu primeiro chefe, segurou muito pepino pra mim. Sei que ele não quer favores do deputado, só manter uma diplomacia e segurar a fonte. Fontes são ouro. Só um doido como eu queima fontes assim. “Tudo bem, Almeida...Eu falo com ele essa semana, quando passar o porre”.Olhei pra mesa do deputado, ele gesticulava loucamente e a loira (que deve ser amante dele) afastava a mecha de cabelo do rosto, visivelmente envergonhada. Encontrei então com Gabriel, outro parceiro de faculdade. Soube que ele está separando, bebendo muito. Minhas terceira e quarta doses são com ele, lembrando que nossos primeiros empregos em redações foram fazendo obituários. Inventávamos as mortes mais bizarras pra preencher o obituário, daí um dia o Almeida, que acabou de me pedir pra fazer as pazes com o deputado mandou chamar os dois, queria saber quem inventava aquilo, achava o texto muito bom apesar da lorota. Dividimos a culpa: eu fui pra página de polícia e o Gabriel pros esportes; deslanchamos em direções diferentes. Fico arrasado junto com ele por essa maré ruim. “Boa noite...Achei que você não ia falar com a dona da festa...”. Meu senso de humor naturalmente negérrimo soltaria uma piada sobre ela dormir na geladeira, mas eu prefiri fazer cara de cão-sem-dono e me limitar a dar um “oi...”. “Adorei mesmo você ter vindo. Algumas pessoas apostaram que você não viria...” “Detesto desapontar as pessoas...” (como eu sou cínico. O que eu vim fazer aqui?). “Você já conhece o Alfredo?” “Dos jornais...”. (Alfredo Gama, playboy, adora cavalos, esquia em Aspen, morou na Suíça, quando criança, e em Israel, quando era adolescente e não sabia com que gastar sua rica mesadinha). “Olha, a Helena fala muito bem de você. Elogia sempre a sua inteligência e o seu texto. É um prazer conhecer você pessoalmente”. (Por que ela me mandou pra puta-que-pariu então?!) “Ah...Legal. Muita generosidade dela, faz parte do pacote de encantos”. Helena ria satisfeita, com cara de “finalmente-estamos-aqui-e-rindo-do-passado”. Imaginei os dois na cama e o uísque pareceu querer voltar boca afora. Hora de ir embora. Perdi o deputado de vista. Gabriel parece ter passado mal, sumiu também. Deus o abençõe e lhe dê uma boa ressaca. “Obrigado mesmo pelo convite. A festa de noivado de vocês estava ótima, mas eu pego no batente cedo, senão não mantenho a minha fama de mau...” (uma piada infame sempre deixa parecendo que está tudo bem). Dou as costas antes que ela me dê um beijo no rosto. Procuro a chave do carro e passo entre os dedos, tenho essa mania caso alguém resolva me atacar, e a fila é grande, todo cuidado é pouco. Encaixo a chave na fechadura. Juro ter ouvido apenas alguns poucos passos (Helena?). “Não vá deixar pra trás o que é seu, seu sacana!” O deputado acertou um tiro que me queimou um lado inteiro do corpo. Caio. (Helena...Helena...Cadê você, porra?). Gente ligando de celulares. Sirenes. Gabriel. Almeida. Ambulância. Apaguei. Os uísques e a mira ruim do deputado me custaram o baço e uns dias no hospital. Meu chefe me mandou um laptop de presente, com cartãozinho assinado pelos colegas da redação. Elizinha Cavalcante pôs uma notinha de pronto re-estabelecimento em sua coluna e veio me visitar. Gabriel ligou. O Almeida também. Perguntei do deputado: foragido, e além disso, tem imunidade parlamentar. Helena não ligou, nem veio me visitar.
Vídeo banido dos mestres do Mr. Bungle. Tem coisas (booom...) que só Mike Patton faz por nós.
frank black - "I heard ramona sing"
Minha orelha esquentou muito esse final de semana.
Você pode não saber quem é Tony Wilson, mas provavelmente você já deu seu rico dinheirinho a esse visionário espertalhão (mas como ele mesmo diz, "formado em Cambridge..."). No final dos anos 70, Tony Wilson apresentava um programa de variedades e reportagens bizarras em um canal não-estatal da região de Manchester, cidade industrial ao norte de Londres. No período pré-Punk , ele foi uma das 42 almas vivas a pagar pra ver os Sex Pistols num cine pornô alugado. Entre as outras almas estavam pessoas que formariam bandas como Buzzcocks, Joy Division, Simple Red e The Smiths (mas como ele mesmo diz, "quantas pessoas haviam na Santa Ceia?"). Enquanto essas pessoas formavam bandas, Tony Wilson maquinava como iria ganhar fama e dinheiro com elas.
A tecnologia nos permite agora tocar a música que pulamos ontem no show. Obrigado a todos que foram (e não foram poucos). O Degüella vos amará eternamente.
Este humilde blog, descobri eu por acidente, foi citado na coluna do meu amado mestre e irmão rubro-negro Francisco Magalhães, do jornal local O Dia; graças a Deus não na manchete do Piracuruca Times, nem pelo "colaborador" Petronílio Penaforte. Fomos alçados a veículo de boa conduta musical (ah bom...).
Lá por 1988 as gravadoras sentiram que a poeira do BRock estava baixando. Inchadas de contratados, não sabiam mais como administrar a briga de cão que até há pouco travavam para vitaminar seus catálogos. Alguns selos apareceram para escoar tanta gente doida pra botar a cara no mercado, o mais célebre deles foi o Plug, um selo da BMG-Ariola, que além de tomar conta do vastissímo celeiro de bandas gaúchas (Engenheiros, TNT, Replicantes, Garotos da Rua), ainda arriscava gravar coisas novas do Rio, SP e MG, mas em menor escala. Em SP, lojas da galeria, como a Baratos Afins e a Wob Bop montavam selos pra garantir a produção local, mesmo ficando devendo em distribuição aos selos cariocas, que eram veiculados a gravadoras grandes. Nesse banzé, apareceram as quatro bandas que você escuta nessa edição do Terehell Radio:
São 02:00 da manhã, mas amanhã (ou melhor, mais tarde) vai ser sábado mesmo. Nada de bater ponto, nada de ensaio. E a semana que vem só vai até quarta mesmo. Finais de semana tem servido pra dormir. Ou tentar dormir. As vezes me sinto numa daquelas casas chinesas onde os viciados se enfurnavam durante a guerra do ópio: perde-se a noção do tempo, o próprio tempo, a vida lá fora. Mas e daí? Eu não tenho a escolha de gastar meu tempo do jeito que me for mais conveniente? O calor derreteu a peça da antena e a TV a cabo está sem som. A água da torneira sempre está escaldante em qualquer lugar, comecei essa semana que finda hoje doente por causa do calor. Galões d'água, falta ar-condicionado que chegue; em casa, no carro, em qualquer lugar. Uma imagem de agonia: Um vendedor de urso gigante de pelúcia, esperando ônibus na praça da bandeira, às 17:30. Bob Dylan diz em sua autobiografia que os lugares frios são mais cheios de esperança, pois as pessoas sabem que mais cedo ou mais tarde o clima vai mudar e tudo vai mudar junto. Nos trópicos, onde é quente todo tempo, nada muda. Rimbaud vendeu armas ao rei da Absínia. Charles Bukowski separou cartas num depósito no subsolo dos correios em L.A . Rubem Fonseca foi delegado de polícia. Lou Reed vendia o próprio sangue quando a grana apertava.
Posso não ter o charme da Juliana Alves, mas eu dou minhas cacetadas...
The Dilinger Escape Plan, uma das bandas mais doidas da face do planeta, descubra o porquê...
Brasília vai receber alguns novos inquilinos em janeiro. Na verdade não são bem inquilinos, pois dificilmente irão fixar residência na capital federal, de clima seco, arquitetura fria e sem muita coisa a fazer se não for trabalho (e como diria Romário: "Treinar pra que? Pra que treinar?"). Quatro desses "residentes", que darão duro de terça a quinta, são os deputados federais mais bem votados do Brasil. Não tanto por suas popularidades, mas por virem do maior colégio eleitoral do país, São Paulo. Eneas Carneiro, físico, matemático, cirurgião cardiaco e doido full-time, caiu do ranking; foi o mais bem votado há quatro anos, com mais de hum milhão de votos. Eneas é o bastião do PRONA, um partido com tendências claramente direitistas, e, longe da imagem de Eneas, recheado de brigadeiros, generais e reaças de carteirinha. Um lugar acima de Eneas está o costureiro e ex-apresentador de TV Clodovil Hernandez. Conhecido por ter a língua tão afiada quanto sua tesoura, Clô (para os íntimos) já se mostrou, em suas primeiras declarações como representante do povo, curioso para conhecer a mobília de seu futuro gabinete, além de vaticinar que depois de sua chegada, Brasília ficará "chiquérrima". Dando à Cézar o que é de Cézar, Clô ao menos colabora há anos com casas de amparo a menores em situação de risco. Outro bem votado que emplaca mais quatro anos em Brasília é Celso Russomano, ex-repórter do jornalistico "Aqui, Agora", a matriz dos programas policiais mondo cane. Celso, antes de enveredar pela política como vereador e deputado estadual em SP, resolvia brigas de vizinhos, denunciava lojas e comerciantes que não respeitavam o consumidor e criou, para encerrar suas matérias, o bordão "Estando bom para ambas as partes...Celso Russomano, aqui...agora!". Paulo Salim Maluf é um velho conhecido do povo brasileiro. Descendente político de Ademar de Barros (o do "rouba mas faz"), Maluf já fez de tudo um muito nesse país nos últimos quarenta anos: Já foi prefeito e governador em SP diversas vezes; na primeira delas, em 1970, mandou dar de presente um fusca a cada jogador da seleção tricampeã na copa do México, prêmio esse que foi obrigado a ressarcir ao estado, mais de trinta anos depois. Sobre a criminalidade galopante na capital, ainda nos anos 70, Maluf cunhou outra famosa frase, a respeito dos crimes sexuais seguidos de morte: "Estupra, mas não mata". Na metade dos anos 80, Maluf se posicionou como candidato civil chapa-branca dos militares para a sucessão de João Figueiredo, viajou por diversos estados tentando angariar aliados, muitas vezes de maneira nada ortodoxa, e acabou gerando um tumulto bíblico (contra si) quando da sua passagem pelo Maranhão. Perdeu no famigerado colégio eleitoral para Tancredo Neves e seu vice maranhense, José Sarney (Que por sinal volta também a cena, como senador pelo Amapá). Ultimamente Maluf não andava muito bem. Grampeado pela policia federal, foi arrolado, junto com um dos filhos, num esquema de lavagem e remessa de dinheiro para paraísos fiscais no exterior. Há menos de dois anos Maluf passou alguns dias preso, e, mesmo tendo recebido esfihas na cela, sofreu, segundo seus advogados, um pré-infarto e voltou pra casa. Da lama aos quase meio milhão de votos. O quinto inquilino não é deputado federal, na verdade ele nem é um ilustre desconhecido na política: Fernando Collor de Mello já foi presidente da república, o primeiro a ser tirado do cargo, por sinal; e agora, senador por Alagoas. Collor deve revitalizar a casa da Dinda para os próximos oito anos, renovar os estoques de CDs de sertanejo, mandar fazer revisão nos jet-skys e na cascata do jardim; e se tudo correr como ele quer, encomendar uma nova coleção de camisetas panfletárias para as corridas dominicais, pois Collor 2010 vem aí. Brasilia vai precisar mesmo do Clodovil.