Atemporal
E imbatíveis até hoje. Reza a lenda que voltam a tocar juntos esse ano...
O banheiro ficava no final do corredor. Em meio ao desespero de vomitar no meio da madrugada, aquela porta já bem gasta parecia estar a quilometros de distãncia; num outro prédio, em outra rua, outra cidade, outro país, do outro lado universo. A ânsia vinha em contrações cada vez mais fortes, a vista escurecia, a respiração faltava. O nariz obstruído obrigava-o a respirar pela boca, fazendo o ar encher o estômago, e assim a próxima vinha sempre pior. Uma dor de cabeça sobre os olhos, como se duas bolas de bilhar dançassem pra lá e pra cá em sua testa. Suor, frio e uma vertigem. Alcançou a maçaneta. Apesar de servir aos moradores do andar, o banheiro era impecavelmente limpo. Velhos ladrilhos em forma de colméia e uma banheira cujos pés imitavam patas de dragão. Nem quis ver o que havia lhe feito passar mal ás três da manhã. Nem receiou pelas sequelas. Sabia que botando pra fora, estaria tudo ok. Desceu com violência a tampa do vaso, e com a outra mão apertou a descarga. Olhou pela ventilação do pequeno cômodo e enxergou o tempo mudando lá fora. Nuvens que desciam baixas sobre o morro do bairro vizinho, estranhamente iluminadas pela avenida que serpenteava logo abaixo. Lavou o rosto, jogando água também na nuca. Daqui a pouco pegava no sono de novo. Quando acordasse, o mundo lá fora continuaria a querer sumir com ele, puxando a corda da descarga.
Rodado em 1963, "Céu & Inferno", do diretor japonês Akira Kurosawa já seria um belo policial noir com direito a todos os ingredientes do gênero; sequestro, chantagem, investigações pelo submundo, tráfico de drogas; não fosse a mão do diretor, bastante inspirado nos cineastas europeus. Daí saiu um pouco mais que isso.
Deveria estar chovendo copiosamente nessa terra há mais de trinta dias. No entanto não cai uma gota d'água e está um calor senegalês.
Lá pelo meio dos anos 70, o ator, diretor, produtor, aviador e don juan mato-grossense Davi Cardoso (Darcy, na certidão de nascimento, homenagem do pai, getulista,) remava e lucrava contra a maré do cinema nacional. Enquanto as pessoas egressas do Cinema Novo, o neo-realismo europeu à brasileira, mamavam nas tetas estatais da Embrafilme, produzindo filmes “sérios” e de pouco retorno, mas altamente bajulados pela crítica, Davi rodava fitas de “gosto duvidoso” na Rua do Triunfo, a conhecida “Boca do Lixo”, na região central de São Paulo (hoje conhecida como “Crackolândia”), em meio a prostitutas, travestis, punguistas, aspirantes a modelo e outros cineastas independentes. O cinema desse Alain Delon pantaneiro ficou conhecido como “pornochanchada”, uma mistura do pornô americano com a comédia de apelo popular nacional dos anos 50 e 60, também jocosamente conhecida por “Chanchada”. Deitando e rolando com lindas atrizes e filmes de apelo popular, Davi fez fama e dinheiro nos anos 70, chegando a rodar três filmes por ano, com recursos vindos de iniciativa privada, ou mesmo de governos estaduais, arrumando um gancho no roteiro. O status de galã de cinema acabou rendendo um convite pra novela global (“O Homem Proibido”, de 1982, na faixa das 18hs) e sem perceber nosso herói começou uma derrocada nas telonas, que culminaria no tenebroso Plano Collor, derrubando ao mesmo tempo Davi (com o confisco das poupanças) e seus rivais (com a extinção da Embrafilme). Desde então recluso no Pantanal ou fazendo pontas em novelas, Cardoso aproveita a chegada dos sessenta anos pra fazer um apanhado de sua vida nessa autobiografia. Do menino pobre de interior apaixonado por cinema, halterofilismo e mulheres ao começo ao lado de Mazzaropi; as aventuras de fazer cinema num país de terceiro mundo (mesmo com a bilheteria de seus filmes batendo gigantes como “O Poderoso Chefão”); enroladas com a crítica e a censura; mulheres, amigos, namoradas, família, casos e “causos” e a nem tão doce vida na semi-aposentadoria: tudo é desenrolado com algumas tantas mágoas e nenhum arrependimento. Pra sorte de Davi, muitos de seus filmes tem passado no Canal Brasil, ironicamente fundado por gente que foi opositora ferrenha de seus filmes “sem conteúdo”, e ele pode se sentir homenageado ainda em vida.
Sem saco pra escrever nada...
O Jansen cansou de protelar, gastar sola de All Star, criar calo no nó dos dedos de tanto bater nas portas e resolveu botar o livro dele pra baixar na net. Do It Yourself é isso aí. Só ir lá no blog do futuro paulistano, escolher um dos quatro links, baixar o livro (Tenho de baixar de novo, o meu ficou no HD que queimou) e se deliciar com a história (pré-História?) do Rock piauiense.
Num futuro apocalíptico e totalitarista, a leitura e os livros serão proibidos. Os bombeiros, ao invés de usar água para apagar incêndios, invadem casas à procura de livros escondidos e usam lança-chamas para queima-los em praça pública, garantindo assim que algumas pessoas não fiquem mais inteligentes que as outras e a paz e a ordem social não sejam molestadas. Tudo o que as pessoas podem, e devem, saber é repassado pela TV, obviamente manipulada através de edições e trucagens. Um dos bombeiros se rebela, e após uma perseguição, transmitida pelo plantão jornalístico, com a morte de um sósia em seu lugar, junta-se a um acampamento de 'renegados', onde cada um assume o nome de uma obra e a decora, afim de que, mesmo que todos os livros cheguem a sumir, eles nunca desapareçam por completo.
Londres era mesmo um lugar divertido. Turnê de lançamento do "New Day Rising", só não é mais perfeito porque o Bob Mould está tocando com a guitarra reserva ao invés da clássica Flying V.
Londres, definitivamente, era um lugar bacana em 1984. Entendam a razão hoje e amanhã. Bom final de semana pra quem for de bom final de semana.
(Nada a ver com rádio do Cabeça, é só aquela música que vem no dial maluco da sua cachola assim que você abre os olhos de manhã ou qualquer hora do dia sem motivo algum)